Ele não conhecia o guarani senão por leitura, e leitura do padre Montoya, de todos o único que escreveu com sinais especiais e que, portanto, escrevia muito diversamente de Martius, que, tendo aprendido o tupi pelo padre Figueira, adotou muito naturalmente o modo de escrever deste grande e profundo gramático.
Outro argumento da diferença aparente das línguas tupi e guarani, e estou quase tentado a dizer de outras línguas americanas, resulta de circunstâncias geográficas que serão bem compreendidas à vista do seguinte exemplo:
No Paraguai se diz: galinha: uruguaçu; no Pará dizem os tupis: çapucaia. Ora é absolutamente impossível encontrar identidade de raízes entre estas duas palavras: uruguaçu e çapucaia; quem não conhecer a língua pensará mesmo que os vocábulos pertencem a dois idiomas distintos; mas, desde que conhecer a significação das palavras, verá que uruguaçu quer dizer perdiz grande; em verdade, a galinha se assemelha à perdiz; mas, não havendo perdizes no Pará, porque não há campos, o nome de uru era dado a outros indivíduos da família que em nada se assemelham à galinha, e, portanto, não era natural que eles se servissem do mesmo qualificativo; tomaram o canto do galo para significar a nova forma, e assim empregaram a expressão: çapucaia, que quer dizer o que grita, tanto em tupi como em guarani.
Estes argumentos são claríssimos, mas só podem ser bem avaliados pelas pessoas que entenderem a língua, e isto infelizmente não é vulgar entre nós, o que é de lamentar-se porque, além de ser quase a língua vernácula, é ela o grande veículo para levar civilização e religião a, pelo menos, um milhão de nossos compatriotas que erram ainda selvagens pelo meio dos