V
Índole das línguas no grupo tupi
Um fato que não deixa de ser singular e característico neste grupo de línguas é que as suas formas gramaticais são quase todas ao inverso das nossas.
Passo a exemplificar isto, porque pode esta observação levar a comparações de não pequeno interesse.
Todas as línguas conhecidas e que têm sido objeto de estudos têm uma única forma para exprimir as pessoas do verbo, e essa forma é a das terminações: nas indo-latinas é assim: laud-o, laud-as, laud-at, laud-amus, laud-atis, laud-ant; expressa as pessoas pelo mesmo mecanismo por que o português o faz: louv-o, louv-as, lou-va, louv-amos, louv-ais, louv-am. Entre o português e o latim a raiz mudou, mas o mecanismo é o mesmo.
O nosso tupi veio fazer brecha nessa regra dos filólogos, apresentando-lhes um mecanismo tão ou mais simples, porém inverso, e, portanto, distinto.
Todo o mecanismo que serve para conjugar os verbos, quando é posposto à raiz nas línguas arianas, é anteposto no tupi; e o que é anteposto nas línguas arianas é posposto no tupi.
Logo: enquanto as línguas classificadas significam as pessoas dos verbos por uma posposição, conservando a raiz em primeiro lugar, o tupi põe a raiz para o fim e começa por aquilo que entre nós é terminação. À vista desta regra, em vez de uma conjugação difícil e abstrusa, o mecanismo dos verbos fica tão claro como em português; aquilo que os antigos gramáticos chamaram artigo não é senão a mesma terminação, com a única diferença de, em vez de posposta, ser anteposta.