Entre nós se passa um fato interessante. Temos orgulho das nossas riquezas embora não saibamos explorá-las. O povo é imensamente pobre, vivendo contudo numa das zonas mais ricas do globo.
Contentamo-nos em repetir que o Brasil é riquíssimo, como o fazemos com a língua que julgamos ser a mais copiosa das existentes. Estaria entre estas, se porventura os lexocógrafos portugueses conhecessem muito mais do Brasil e quisessem incorporar a extraordinária riqueza vocabular que ele originou nos seus dicionários. Preferiríamos até nem chamar de brasileirismos; somos a isso forçados porque é assim anotado nos léxicos lusitanos, os principais criadores da separação da língua dos dois povos, os fazedores de compartimentos estanques, neste particular, entre os dois países, quando seria muito mais inteligente o estabelecimento permanente de um sistema de vasos comunicantes.
Recordo-me, certa vez, que Candido de Figueiredo, discutindo no Jornal do Comercio e pontificando sobre o nosso linguajar, sinceramente afirmava, em uma discussão que travou com Paulino de Brito, que a nossa gente falava Um português africanizado, quando textualmente referiu, no artigo CCCI, daquele periódico, de 1908: "Assim se explica como muitas adoráveis sinhás do nosso querido Brasil dizem com toda a naturalidade – 'hoje não qué o jantá, sinhô papai; não mi faz bem o comê'."
O filólogo português, no O problema da colocação dos pronomes, assinala ainda, referindo-se ao Brasil: "Mas não me é inteiramente estranha a gramática das línguas africanas, e vou encontrá-la, refletindo-se vagamente na linguagem da roça". Diz adiante: "Em São Tomé, por exemplo, o português, que ali resida algumas semanas ou meses, acaba por fazer sintaxe negra, e não tem escrúpulos em dizer como se ouve em São Tomé e no Brasil".
Assim como, em geral, nossos irmãos não têm noção exata das riquezas que possuímos e dos progressos a que já atingimos, aliás em sua maior parte obra portuguesa, os filólogos