Estudos da língua nacional

d'além-mar continuam ignorando o que se passa no nosso país.

Não são, porém, somente os filólogos portugueses; os brasileiros classicólatras pouco ou nada se interessam com o falar dos seus compatriotas e julgam que assim poderão impedir que a evolução se realize na ingênua suposição de que, fazendo abstração dos fatos, esses desaparecem, quando na verdade acabam sempre por triunfar e temos de aceitá-los, porque nos esmagam.

A reação já se operou e vai em escala crescente. Há pouco tempo foi dado à publicidade um dicionário que procurava dar o mais possível do falar brasileiro e, para poupar espaço, foi eliminando um mundo de lusismos inteiramente desconhecidos pela maioria dos nossos patrícios. Se nos dicionários não encontramos o nosso sermo quotidianus, procura-se um natural reajustamento fornecendo-se ao público léxicos com o nosso linguajar e omitindo o que de todo não usamos e desconhecemos.

A nós, pouco importa que Candido de Figueiredo, em 1913, tenha incorporado ao seu léxico 1.500 denominações vulgares de parreiras e castas de uvas por ele comprovadas presentes no falar lusitano. Temos muito mais interesse em saber o nome e significado dos nossos vegetais e a denominação dos representantes da fauna brasileira, presentes a cada passo e citados a todo momento, em toda a extensão do Brasil, denominações que variam conforme os estados, mas que fazem parte da nossa vida cotidiana, durante toda a existência, do primeiro ao último alento.

No que dizemos não há qualquer vislumbre de xenofobia ou lusofobia; este sentimento, então, seria inteiramente inqualificável. Talvez que se encontre entre alguns cariocas o remoque, a pilhéria, a respeito da ascendência portuguesa; isto é, porém, inteiramente superficial e existe, como se sabe, e pessoalmente comprovei, em todos os países que foram colonizados, dos Estados Unidos à Argentina, em relação à mãe pátria.

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