Estudos da língua nacional

Não sei se algum dia tal ambiente se encontrará entre nós. Quando alguém fala ou escreve no Brasil, monta imediatamente guarda ao que disse ou grafou, não querendo absolutamente ceder diante de nenhum argumento.

É feitio nosso que herdamos dos portugueses, às vezes tão apaixonados que um investigador de valor, que começou a estudar nossa linguagem, Daupiás, quando escreveu o Dialeto capiau, procurou mostrar que a troca do v pelo b é, também, fenômeno brasileiro.

De fato, não é raro o brasileiro inculto do interior pronunciar berruga, barrer, bassoura, biado, e em Mato Grosso e Minas bamo, entre outros.

Nunca se estudou se isto é sobrevivência da língua falada pelos portugueses que nos colonizaram ou se já é, o que não parece provável, influência da língua dos índios que não possuíam a letra v ou até influência africana.

Encontramo-nos em situação verdadeiramente inexplicável alguns dos maiores filólogos portugueses, de há muito, consideram que o falar do Brasil é um dialeto português. Recusamo-nos a aceitar, e argumentamos, fazendo belos períodos como o de Ruy Barbosa referindo-se ao célebre "surrão amplo" etc., mas que não constituem argumentos filológicos que se oponham às afirmações dos filólogos lusos. Não tentamos estudar seriamente o fato.

Muita gente quer, impor-nos a linguagem portuguesa que evolve de modo diferente da nossa. Já não se contentam em que traguemos os clássicos; querem obrigar-nos a assimilar os fenômenos glotológicos que se passam na Lisboa moderna e que pronunciemos pregunte, quere, agua fervente, registo etc., em substituição ao pergunte, quer, agua fervendo, registro, que os portugueses usaram em larga escala, para cá trouxeram; nós guardamos e eles esqueceram. Diziam priguiça tal como o povo brasileiro, como se vê na "Regra de São Bento", documento do século XIII e XIV; e assim escrevia Anchieta: corenta, encontrado no "Roteiro de Vasco da Gama", de Alvaro Velho, um dos companheiros do grande navegador. Craro, pidir que se encontra na Cronica do Condestabre; somana,

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