Expedição às regiões centrais da América do Sul v.2

As casas de Mato Grosso não têm mais que um andar térreo; uma única possui um segundo piso, mas que não passa de um sótão. Conta-se que nos tempos do domínio português, certo morador rico, de nome Manuel Alves, quis mandar construir um sobrado no largo do palácio, mas que fora impedido de fazê-lo por uma ordem do presidente, a quem não parecia admissível que um particular tivesse uma habitação mais alta do que o palácio governamental. Tal construção ainda existe, no seu estado incompleto.

Tendo gozado durante alguns tempo de grande prosperidade por causa da extração do ouro, esta cidade não tardou a entrar em decadência, por causa da insalubridade do clima. Já a havia abandonado uma parte da população quando, em 1820, o presidente Francisco de Paula Magessi Tavares lhe deu o tiro de misericórdia transferindo para Cuiabá a sede do governo, com todas as dependências. Em Mato Grosso ficou desde então apenas o comandante superior da fronteira.

Hoje, embora tenha diminuído muito a frequência e a intensidade das doenças epidêmicas que despovoaram a cidade, é muito pouco provável, segundo dizem as pessoas mais velhas da zona, que ela venha gozar de melhor situação em próximo futuro. Pois o ouro já se tornou mais raro nos arredores e não há braços para entreter a exploração. No período de maior prosperidade trabalhavam na vila cerca de mil e duzentos escravos; hoje sua população não excede a oitocentos ou mil habitantes livres e quase não há mais escravos. O comandante superior da fronteira hoje não tem sob suas ordens mais do que trezentos e dez homens, um capitão e um tenente. Havia outrora em Vila Bela mais de oitocentos soldados. Os dois destacamentos que dependem imediatamente de Mato Grosso são: o do Forte do Príncipe da Beira, situado no Guaporé e composto de trinta soldados, comandados por um tenente, e

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