Expedição às regiões centrais da América do Sul v.2

um pouco de pimenta esmagada, suco de limão e açúcar; introduzem-se depois pela mesma via vários quartos de limão mergulhados numa mistura de pólvora e cachaça. Os negros e mulatos resistem muito melhor do que os brancos a esta moléstia epidêmica. Também não havia então em Mato Grosso mais do que umas três ou quatro pessoas que não eram de cor, e todas elas funcionários públicos. Atribuem a existência deste flagelo aos pantanais que rodeiam a cidade.

Diante da exposição que acabamos de fazer sobre o estado sanitário da região, não causará admiração que eu me tivesse contrariado com o convite oficial para tomar parte na procissão do dia de Santo Antônio. Nos países tropicais é uso celebrar estas festas depois do sol posto; em Mato Grosso, porém, por singular exceção, escolhia-se para tais cerimônias as horas justamente em que o sol é mais quente. Assim, fomos logo cedinho despertados pelo tremendo barulho de sinos, tambores, cornetas, bombas, etc., acompanhamento infalível de todas as festas brasileiras. Pouco depois vieram buscar-nos para almoçar em palácio e daí seguir para a capela de Santo Antônio, que é pequena, mas, pelo menos, despida da infinidade de ornamentos de péssimo gosto, que atravancam geralmente as igrejas da terra. Quatro eram os padres, dois brancos, um preto e um mulato. A capela estava cheia de mulheres, pretas na sua grande maioria; de tudo porém o que me pareceu mais extraordinário era a música, mais parecida com a que fazem os gatos nas suas expansões amorosas. A procissão saiu da igreja ao meio-dia. Por uma fatal distinção, tínhamos sido, eu e o sr. d'Osery, escolhidos para carregar o pálio, segurando cada qual um enorme pé de prata maciça. Tão grande era o peso destes últimos que só com as duas mãos conseguíamos suportá-los.

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