O naturalista no rio Amazonas - T1

portanto (o patrão e dois passageiros) péssima acomodação, sendo obrigados a dormir no tombadilho, expostos ao tempo úmido e tempestuoso, sob pequenos toldos, arranjados de cipós entrançados e folhas de maranta. Muitas vezes acordei de manhã com as roupas e o lençol ensopados de chuva. Contudo, com exceção de leve resfriado, no começo da viagem, nunca tive melhor saúde que durante esta travessia. Quando o vento soprava de cima ou de terra avançávamos velozmente; mas às vezes havia temporal destas bandas e não era seguro então soltar as velas. Geralmente o tempo era calmo, com o céu coberto por docel imóvel de pesadas nuvens, e a grande massa d'água descia lentamente sem nenhum outro movimento que o leve encrespar da corrente. Quando o vento soprava de baixo bordejávamos com a corrente. Às vezes soprava tão forte que a escuna, tendo o vento pela proa, rasgava as ondas que se erguiam sobranceiras e lavavam o convés de lado a lado.

Chegados ao Pará, encontrei aquela cidade, dantes salubre e alegre, desolada por duas terríveis epidemias. A febre amarela, que a visitara rio ano anterior (1850), pela primeira vez desde a descoberta do país, ainda se prolongava, depois de ter vitimado quase cinco por cento da população. O número de pessoas acometidas, três quartas partes de toda a população, mostrava como é geral o assalto de uma epidemia no seu primeiro surto em uma localidade. Nos calcanhares desta peste chegou a varíola. A febre amarela acometera mais gravemente brancos e mamelucos, ficando os negros quase indenes; mas a varíola atacou mais especialmente os índios, negros e mestiços, poupando quase completamente os brancos, e vitimando quase um vigésimo da população no decurso de quatro meses de sua duração. Ouvi

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