O naturalista no rio Amazonas - T1

e o do Amazonas. No primeiro o fluxo da maré sempre cria uma forte correnteza para cima, enquanto no Amazonas a túrbida correnteza do poderoso rio supera todas as marés e produz um refluxo constante para baixo. O colorido da água é diferente: o Pará é de um pardo-alaranjado sujo, e o do Amazonas é de um tom ocre ou barrento. As florestas das margens são também de diverso aspecto. No Pará as árvores, de uma infinita variedade, parecem erguer-se diretamente da água, o chão da floresta é coberto de relva e tem um aspecto tranquilo. As praias do Amazonas são atravancadas de troncos caídos e orladas de um cinto de ervas de folhas largas. Esta diferença em parte se deve a que as correntes do rio principal solapam as margens e arrastam para o mar uma fila quase contínua de árvores mortas e outros detritos de suas praias.

Podemos, contudo, considerar o conjunto das bocas do Pará e do Amazonas, com seu arquipélago de inúmeras ilhas, como formando um imenso delta, tendo de cada lado 180 milhas (uma área quase igual à metade sul da Inglaterra com o país de Gales). No meio está a ilha de Marajó, que é do tamanho da Sicília. A terra é baixa e chã, mas não é formada totalmente pelo alúvio ou depósito fluvial, pois em muitos pontos o solo é pedregoso e há rochas formando recifes no meio do rio Pará.

Os colossais volumes d'água doce que passam por estas largas embocaduras e a contribuição conjunta de inúmeras correntes, alimentadas pelas copiosas chuvas tropicais, impedem que estes estuários sejam salgados. Só acidentalmente a água fica um pouco salobra perto do Pará, nas sizígias da maré. Na realidade a água doce tinge o mar ao longo das praias da Guiana até uma distância de quase duzentas milhas além da foz do rio.

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