Depois de percorrermos as poucas ruas perto do porto, de edifícios altos, tristonhos, com aspecto de conventos, habitadas principalmente por negociantes em grosso e a varejo e nas quais se viam perambulando soldados indolentes, metidos em velhas fardas e levando descuidadamente ao ombro os mosquetões, padres, negros carregando à cabeça talhas de barro vermelho, índias de aspecto tristonho, com os filhos nus escanchados nos quadris, e várias outras amostras da vida multicor do lugar, atravessamos uma rua longa e estreita, que levava aos subúrbios. Mais adiante a estrada, que percorríamos, cortava ampla campina e ia ter a uma pitoresca vereda que levava à floresta virgem. Essa rua, sem calçamento e com algumas polegadas de poeira, era habitada pela classe mais pobre da população. As casas eram todas de um só pavimento, de aspecto miserável e irregular, com as janelas sem vidros, tendo a substituí-los, gradeados de madeira. Do lado de fora das portas viam-se grupos tomando fresco: pessoas de todos os tons de pele, europeus, negros e índios, mas principalmente uma mistura incerta dos três. Havia nesses grupos algumas mulheres bonitas, com as roupas em desalinho, descalças ou de chinelas, mas com brincos ricamente trabalhados e com colares de grandes contas de ouro. Tinham negros olhos expressivos e cabeleiras notavelmente densas. Era uma mera fantasia, mas eu tinha a impressão de que o misto de desalinho, riqueza e formosura dessas mulheres estava em perfeita harmonia com o resto do cenário, pois era igualmente impressionante a mistura das riquezas naturais e da pobreza humana. As casas, quase todas, estavam em ruínas notando-se, por toda parte, sinais de indolência e desleixo. As cercas de madeira, que separavam os jardins cheios de mato, tinham sido quebradas e espalhadas a esmo.