Estrada de Ferro Madeira-Mamoré: história trágica de uma expedição

O mato já estava escuro e sua imaginação fora posta a trabalhar superexcitada por histórias horripilantes de orgias canibalescas com que lhe encheram os ouvidos. O Sr. Cunningham hesitou, e, finalmente, cedeu ante a consideração das complicações de ordem legal e a consternação que inevitavelmente se dariam se os tomadores ingleses soubessem que a sua mais importante testemunha se tinha metido em paragens onde apenas um documento — exibido a selvagens da América do Sul — poderia identificá-lo.

Voltou a Santo Antônio, seguiu rumo ao Pará no dia seguinte à hora marcada e, depois de viajar cerca de 19 mil km, apresentou-se como testemunha no Tribunal.

Como se poderá deduzir da explicação acima, suas declarações foram decepcionantes. Não conseguira ver um só operário trabalhando na estrada, fato esse em nada surpreendente, já que lá estivera num domingo. Não sabia dizer até que ponto o leito da linha estava limpo, porque não estivera nem a 30 km do ponto até onde a limpeza havia sido executada. Não vira a ponta dos trilhos, e, portanto, não podia dar seu testemunho pessoal quanto à extensão já pronta. Ao perguntarem-lhe por que não caminhara até o fim da linha, limitara-se a responder: "Eu não iria percorrer toda essa distância a pé". Nesse ponto, o juiz Fry, não podendo reprimir seu desapontamento pelas declarações da testemunha por cuja causa havia adiado o julgamento, exclamou: "Confesso que esta é a prova mais extraordinária de que tenho conhecimento". O Sr. Day, advogado dos autores, acrescentou: "É uma região extraordinária para se viajar nela. O Coronel Church dá

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