O Brasil

anda atirando pedradas, não me causará surpresa". José Bonifácio quis modificar esta expressão do doutor, mas este replicou que o estado atual de sua majestade se ressentia de uma alienação mental muito pronunciada. Era isto em começos de 23; seriam prenúncios dos acessos epilépticos que lhe voltaram logo depois... um ataque epiléptico de que sofreu o imperador no dia 6 de junho (1823), quando já havia cinco anos que não fora acometido de tal incômodo, que na juventude por vezes experimentara. Sim: a semente de D. João VI, pelo útero de Carlota Joaquina, não podia deixar de produzir um epiléptico, com tons de paranoico. E o ambiente estava feito nesses conceitos. Armitage reflete-o, quando nos mostra toda a família de D. João VI (menos D. Benedita) "distinguindo-se, apenas, pela incapacidade", até mesmo para compreeender a situação que lhe era feita pela Revolução Constitucional de 1820.



POMBAL E AS COMPANHIAS DE COMÉRCIO



Sebastião José de Carvalho e Mello, com todas as suas pretensões a regenerar Portugal e restabelecê-lo, potente e eficaz, fornece a prova mais completa da profunda degeneração em que o velho reino se dissolvia, porque ele mesmo, Pombal, é, bem explicitamente, já o vimos, um caso de degeneração. Havia, no "grande estadista", fumaças de talento, vanglória de patriotismo, tudo por sobre a negrura de uma alma torva e cruel. Os seus talentos eram fulgurações desassistidas de senso crítico, numa inteligência já imprópria a assimilar a verdadeira experiência que a vida moderna oferecia, inteligência sem compenetração das necessidades essenciais da nação. Nenhum dos grandes ideais que agitavam a Europa daqueles dias chegou a perpassar-lhe pela sua mente. E Pombal nunca chegou a compreender os novos destinos em que Portugal poderia