O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824

brasileiros que mandam seus filhos a escolas e universidades alemãs. De modo geral, a educação que recebe a gente da terra é deficiente. Mesmo nas melhores famílias, os jovens são malcriados e preguiçosos e, como nessa idade, entregam-nos aos cuidados dos escravos, com estes se parecem sob muitos aspectos. Se um rapaz aprende a ler, escrever e contar, dão por terminada sua educação; outros conhecimentos são grego para ele. Igualmente, no que respeita à moral, sendo da mesma forma seus mestres os negros e, como estes têm na infidelidade, na preguiça e na licença uma segunda natureza, pode-se imaginar que formação imprimem em seus discípulos.

A educação das jovens ainda é mais desleixada, se possível, já que, até casarem, pouco saem de casa, salvo para ir à missa; contatos com o outro sexo são-lhes proibidos. A educação que recebem é das mães, não menos ignorantes, e das escravas. Raramente falam outra língua que a materna, quando muito entendem algum francês, e em matéria de música tocarão, quiçá, mediocremente o piano. A leitura lhes é de todo estranha, pelo que sua frequentação oferece poucos atrativos, a menos que se goste de mexericos, no que elas são muito fortes e os praticam em sociedade com exasperante naturalidade.

Quanto a intrigas amorosas são, porém, mais que dotadas e nelas mostram rara habilidade, sendo este o tema único e exclusivo, ao redor do qual giram as conversações.

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