possuía, entretanto, a grande vantagem de falar às paixões do momento e exaltar o sentimento partidário, apresentando os triunfadores qual missionários de um novo evangelho econômico. Essa finalidade foi atingida, e a ilusão daí resultante, dissipada bem mais tarde, causou ao Brasil malefícios cujos efeitos ainda perduram.
Só esse estado de espírito permitiu passarem sem discussão nem réplica as afirmações temerárias da exposição do Ministro da Fazenda.
O Banco Nacional, por desconfiança do novo estado de coisas, resgatou toda sua emissão em base metálica. Isso foi considerado prova da ineficácia do regime defendido pelo Visconde de Ouro Preto, e da excelência dos títulos da dívida pública como base de garantia da circulação fiduciária.
Estabeleceu-se o seguinte dilema: a emissão dos bancos era indispensável: não podendo fazê-la baseada no ouro, cumpria aceitá-la tendo como garantia os títulos da dívida pública. E sobre essa estranha concepção da natureza e função da moeda, o método de garantir uma dívida mediante outra dívida foi considerado a solução científica do problema da circulação no Brasil.
Os exemplos desse sistema são copiosos, declarava a exposição: o Banco da Inglaterra tem £ 16 200 000 em circulação, sem outra garantia salvo a dívida do Estado, de 11 milhões de esterlinos, e 5.200.000 em títulos absolutamente seguros; nos Estados Unidos, os bancos emitem à razão de 90% dos títulos nacionais por eles depositados no Tesouro Federal, conforme as leis de 25 de fevereiro de 1863 e 3 de junho de 1866. Sem falar na moeda inglesa, que não corresponde positivamente à tese em questão, o caso dos Estados Unidos não constitui modelo a seguir, pois ninguém ignora que há muito tempo o sistema dos bancos de emissão desse país é uma das chagas de sua organização econômica.