Narrativas de uma viagem ao Brasil

esclarecê-la e reformá-la, essas características deverão perdurar, levando muito tempo até que sejam erradicadas.

No trato com os estrangeiros, percebe-se muito menos hauteur na Bahia do que em qualquer outra parte da costa; e os baianos ficariam indubitavelmente felizes se pudessem conseguir as vantagens que lhes proporcionaria um comércio livre e irrestrito. Em segredo exprimem tais sentimentos. Mas o governo português parece atualmente esposar opinião bem diversa, particularmente quanto à nação britânica, a respeito da qual adotou um novo sistema em suas colônias, no intuito de importunar e irritar o comércio inglês. Há muito tempo que isso se percebe, através de severos regulamentos aduaneiros, dos estudados obstáculos e insultos aos navios a que permitem refresco em seus portos, e o recente e injustificado apresamento e detenção de vários barcos no litoral.

Essa última injustiça chegará a tal ponto que obrigará um dia nossa Corte a uma interferência enérgica, não só para obter reparação pelo que foi feito no passado, como também no intuito de impedir eficazmente a repetição de tal comportamento no futuro, pois não se pode admitir que o nosso intercâmbio político com Portugal, embora vinculado a um interesse geral e a uma balança comercial a nosso favor, desculpe insultos privados e distantes ao pavilhão inglês. Na realidade, tais injúrias são os indícios de um espírito independente, desejoso de alijar a confiança e proteção que os portugueses há tanto tempo obtêm na Inglaterra, impedindo-nos de qualquer participação maior em seu comércio.

O marquês de Pombal, tendo isso em vista, instituiu manufaturas em Portugal, destinadas ao suprimento das colônias, que se acham hoje em dia quase plenamente desenvolvidas. E com os cuidados às mesmas dispensados, irão finalmente superar a necessidade de importações de qualquer outro país. Também por esse mesmo motivo é que foi baixado rigoroso edito, proibindo todas as exportações de produtos coloniais, até mesmo em navios portugueses, exceto para Lisboa, Porto e colônias da África.

Nenhuma censura pode ser feita a esses esforços patrióticos para melhorar o país e o seu comércio; mas deve ser condenado

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