Narrativas de uma viagem ao Brasil

duas tábuas formavam uma cama, e isso constituía o único mobiliário da peça(22) Nota do Leitor.

15 de julho. A manhã principiou muito melancólica: o sono estivera ausente dos nossos olhos, a masmorra era quentíssima, e a respiração de tão pútrido e pouco saudável ar, naquela situação de confinamento, deixara-nos passando bem mal. Eu me achava bastante indisposto; tinha acabado de restabelecer-me de uma grave febre maligna, e me encontrava extremamente debilitado. Nossas mentes afinavam com as nossas sensações corpóreas; e a janela de grossas grades, a imensidade das teias e das aranhas no teto e em torno das lúgubres paredes negras, a terra úmida, tudo conspirava para encher- nos das mais sombrias apreensões.

Um grande jarro de água foi colocado do lado de fora da janela, e por uma abertura nela existente nós o tomávamos para dele nos servirmos. O alimento era passado pelo mesmo orifício, mas obtê-lo ficava aos meus próprios cuidados e expensas, já que não recebia eu qualquer pensão.

Por especial favor, condescenderam em que eu acendesse um fogo no chão, para fumigar a masmorra, o qual mantive sempre esperto durante o dia (apesar do calor), como único meio de aliviar o ar viciado e, de certa maneira, poder tolerá-lo.

16 a 23 de julho. Tinham sido baixadas ordens terminantes para que não me fornecessem pena e tinta; mas consegui frustrá-las, ocultando um lápis e parte de um caderno de papel, que achei meios de comprar. O primeiro uso que fiz deles foi solicitar uma pequena caixa de medicamentos, que tinha a bordo; houve humanidade bastante para atender-me. Mas



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