mistura assente por alguns dias, e decanta-se o líquido puro, levado, então a uma caldeira para evaporar-se até formar o açúcar. O sedimento é destilado, produzindo forte aguardente. Como essa fábrica de açúcar primitiva é diversa das enormes instalações, máquinas e engenhos empregados pelos plantadores das Índias Ocidentais!
Achei as acomodações da casa muito superiores ao que havia esperado encontrar, dada a pobreza geral de Porto Seguro; eram, na verdade, as melhores que deparei nesta parte do Brasil. A recepção foi acolhedora, os alimentos bem cozidos (para o país) e toleravelmente asseados. Jantamos no chão, sendo estendidas umas esteiras e, sobre elas, uma toalha limpa. A louça era suficiente (o que é raro aqui), como também as colheres, de prata, facas e garfos, com cabo do mesmo metal. À noite, tivemos camas convenientes e confortáveis.
3 de agosto. Acordei com o sol a brilhar e fiquei encantado com as terras que circundavam a fazenda. A casa é rodeada de bananeiras, algodoeiros, cacaueiros e laranjeiras. Mais além dessas árvores, estendem-se os cercados de cana, mandioca, etc., e a oeste abre-se uma vasta área de terras cobertas de capim, reservadas à pastagem, desigualmente protegidas por cercas de madeira do lugar. O solo desce em direção ao rio, de maneira irregular, formando belas depressões, pontilhadas de capoeiras e compondo, juntamente com o rio e o gado das suas margens, a mais deliciosa das cenas.
Caminhando pela orla da mata, vi pássaros de plumagem brilhantíssima, um deles quase do porte de um peru. O mutum(26) Nota do Leitor é particularmente vistoso, de um azul profundo, que se aproxima do negro, tendo a cabeça e os olhos de notável beleza. Eram numerosos os tucanos e muitas outras aves, verdadeiramente graciosas. Havia saguis de cor cinzenta ou prateada, em todas as moitas, cujos gritos estridentes e desagradáveis penetravam-nos até o cérebro, quando próximos. Tive a impressão de perceber distante uivar de onças, numerosas e fatais em suas devastações, constituindo, com as cobras, a principal maldição dos fazendeiros.
