Viagens aos planaltos do Brasil - Tomo II: Minas e os mineiros

Jenipapo nº 2, onde a corrente corre para nordeste, apresenta poucas dificuldades; há bastante água no meio da corrente. Depois disso, por umas três milhas, navegamos para leste, sem nada ganhar. Depois cruzamos o rodamoinho do "Beija Mão". Não é nenhum Maëlstrom, mas pode ser perigoso para pequenos barcos durante as enchentes. A terceira ilha do Jenipapo era uma "coroa" que costeamos pela direita. O resto da corrente é perigoso. Pouco depois passamos a ilha do Hipólito,(26) Nota do Autor cuja passagem pela direita é impedida por uma fileira de rochas pontiagudas.

Às duas horas da tarde retomamos o trabalho nas garras de um terrível vento norte.

A margem direita era constituída por uma muralha de quartzo conglomerado de cerca de cinco pés de altura. Abaixo fica o córrego do Brejo, completamente seco, mostrando a camada calcária. No vau da Caraíba(27) Nota do Autor há uma passagem a seco durante a estação não chuvosa, e no saco do mesmo nome há um grande rochedo a estibordo, inofensivo, porém, à navegação pois a passagem pela esquerda é folgada. Aqui seguimos os três lados de um quadrado. Um corte de uma milha e meia ter-nos-ia evitado seis. Às cinco horas da tarde passamos o porto de Areias, à cuja direita havia gente acampada. Assinalava-o um lindo angico mimoso, nesta época sem uma folha, ostentando o tronco polido ele um tom amarelo-ruibarbo.(28) Nota do Autor Mais uma hora e estávamos no saco da Manga, banco de areia de 20 pés de altura, semeado de hibiscos-do-mangue e ostentando um rico solo de oito pés de profundidade. Aqui as águas do rio das Velhas, provavelmente por influência de algum afluente, tornam-se escuras e lamacentas, com o cheiro peculiar dos rios lodosos da África onde as chuvas não as lavaram. Os pilotos consideram-nas cristalinas quando comparadas com as águas da estação chuvosa: então as lavagens da parte superior do rio lhes emprestam uma tonalidade cor de sangue. À noite, porém, o mal foi mitigado por um forte vento vindo da serra do Espinhaço.

11 de setembro. A madrugada, quando partimos, estava clara, mas à medida que o horizonte tornava-se amarelo, começaram a elevar-se do rio colunas dessa cor até serem dispersadas pela brisa, que em breve tornou-se uma forte ventania vinda do leste. Ao meio-dia o sol estava causticante, mas à tarde refrescou muito, lembrando-me um inverno no Egito. Lembrei-me de um companheiro em dia de outono no Tennessee, quando os homens começavam a colheita do algodão. Ao anoitecer, nuvens como rolos de fumaça, começaram a acumular-se do lado do norte e uma névoa lilás toldou o poente, surgindo, logo depois, uma lua pálida e enevoada. Não teremos chuva, disse o piloto, mas vento.

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