qual a madeira já foi cortada, deixando uma superfície de arbustos castanhos, mas com manchas e feridas esparsas em linhas de verde, sinal de água. As lajes de pedra azulada, provavelmente calcária, dizem formar grutas e salitre. Na base há alagadiços e brejos formados acima do nível máximo do rio. As margens apresentam uma notável diferença: à direita um solo calcário e fértil, baseado em argila ferruginosa(30) Nota do Autor de que se fazem pedras de amolar. À esquerda, abundante de arenito e argila laminada, o terreno é pobre, como o demonstra a vegetação pobre e raquítica.
À tarde encoramos para descansar perto de um leito de conglomerado, com seis pés de espessura, à sombra de um nobre jatobá saudando a água. O lugar se chama Brejo do Buriti e ostenta uma mataria rala de monocotiledôneas com dicotiledôneas pouco desenvolvidas. A palavra escrita por Pizarro e Saint-Hilaire, Bority, por Martius, Gardner e Kidder, Buriti, e pelo Sistema: Bruti é uma corrupção vulgar do tupi Murity.(31) Nota do Autor Essa Mauricia vinifera é desde logo elegante e útil, mas fiquei desapontado com ela ao lembrar-me das magníficas palmeiras ou palmeiras de abanos de Ioruba. O povo, porém, me diz que junto do rio ela se desenvolve inferiormente e só atinge seu pleno desenvolvimento nas terras altas e secas das Gerais. Não me souberam informar qual a extensão que ela ocupa. A maior parte concorda em que onde a carnaúba veste as margens do rio no médio São Francisco, o buriti cresce no interior. Aqui ela se apresenta isolada ou em grupos. Vi-a em todos os tamanhos, desde o pequeno leque junto ao solo até a alta coluna coroada de belas folhagens.
Segundo Leblond e Codazzi, uma tribo de guaraúnos ou waraons dependia dessa palmeira para viver. Nela construíam suas casas aéreas e as larvas que nelas se encontram são ainda a comida favorita entre os índios do Orenoco. Aqui as folhas são tecidas para se fazerem cestas, as frondes são cortadas, postas abaixo e vendidos os troncos para se levantarem cercas. A polpa oleosa e avermelhada entre as cascas e as sementes e a substância albuminosa da noz(32) Nota do Autor é transformada com açúcar numa pasta que é levada ao mercado nas próprias folhas. O povo saboreia esse "doce" apesar de dizerem que torna a pele amarela. Com a fibra castanho-amarelada tecem redes resistentes, que duram ainda mais quando enceradas. No rio de São Francisco elas custam 1$000 a 1$500. O suco de sacarina fornece o mais apreciado vinho de palmeira no Brasil, onde, é curioso dizer, o da semente de coco, de todos o mais delicado, é completamente desconhecido. É extraído, da maneira desperdiçada dos negros: fazendo-se cortes de machado de pé e meio de comprimento e três polegadas de fundo com intervalo de cinco a seis pés. Esses talhos depressa se enchem de um licor avermelhado. À medida que o tempo passar um sistema