sensação. Sentimo-nos aliviados, como se a neve caísse dos olhos e o gelo libertasse os ossos. O homem sente-se restituído ao gozo passivo da vida no meio que lhe é propício. Por isso nossos marinheiros, como é sabido, preferem a estação da África Ocidental, a despeito de suas febres e disenterias. O encantamento do frio explica facilmente a preferência.
Nem nos podemos queixar do calor se nos lembrarmos que estamos a 17° de latitude sul, perto do paralelo de Mocha, na Arábia do Sul,(6) Nota do Tradutor Temos aqui 85°F. Lá 105. O clima é temperado pela grande área do mar comparada com o continente, pela abundância de água, provocando uma ventilação regular, pela altitude acima do nível do mar, pelas horas de obscuridade quase iguais às de claridade e, de modo geral, pela forma do continente. Às vezes, contudo, especialmente à sombra das árvores, a bicharia ataca perigosamente. Quanto aos piores males, ainda não encontrei durante minha estada no Brasil, a centopeia, ou qualquer gênero de lacraias, escorpiões, posto que Koster fosse mordido por um, e a Patagônia está repleta deles como o Hedjaz. O termo, porém, é também aplicado ao bicho cabeludo, ou lagarta peluda, chamada pelos selvagens taturana.(7) Nota do Tradutor O carrapato e o gênero de pulga Leptus irritans, salvo nas cabanas, são raros. Não fornos vítimas do berne, nem do marimbondo. O borrachudo (Culex penetrans) que ataca bastante as serras frias e arborizadas dá às vezes trabalho. A picada forma um ponto de sangue que precisa ser expelido, e o lugar esfregado com amônia, de outro modo a inchação torna-se intolerável. Nunca viajei sem bom sortimento de sais de cheiro, igualmente valiosos contra as cobras e as dores de cabeça. Nesta atmosfera árida a mutuca (ou motuca), que Southey grafa "mutuça", ou tavão é rara. O mosquito, geralmente chamado mosquito pernilongo,(8) Nota do Autor mas aqui chamado muriçoca ou "murisoca" (Morisoca, segundo Koster), às vezes solta uma pequena canção, em tom agudo conforme os ouvidos sensíveis às músicas. O mosquiteiro, contudo, é de tão pouca utilidade como os preventivos contra a febre. O mosquito, porém, não tem tão grande variedade como o fincudo da costa, especialmente dos rios de mangue; sua ameaça incomoda mais do que a picada. Em fevereiro e março, quando as águas baixam e as terras marginais, como nos rios africanos, ficam cobertas de lodo, o tormento é, dizem, severo. O pior de todos é o diminuto conhecido como "mucuim", (muquim, escreve Saint-Hilaire), ou "pólvora". O "maruim" ou "moraim" ("maroim", segundo Koster; "miruim" conforme Saint-Hilaire e "meroy", como escreve Gardner) queima como uma língua de fogo, provocando inflamações, especialmente em torno dos olhos, mesmo nos refratários ao mosquito. Onde eles existem é conveniente usar luvas e uma gaze ligando a cabeça e o trajo. A