Viagens aos planaltos do Brasil - Tomo II: Minas e os mineiros

Então o glorioso satélite subindo para o zênite emergiu finalmente da sombra e de novo brilhou com a luz de prata e a alegria própria sobre o mundo interior. Por meio de um anticlímax voltamos ao estado anterior.

14 de setembro. Partimos às seis horas com o ar ainda quente e perfeitamente estável. A espuma corria em linhas pela corrente abaixo, coalhando-se perto das margens onde havia águas mais profundas. Uma hora de esforços levou-nos à ilha da Maravilha, onde o córrego do Lameirao(24) Nota do Autor entra pela margem esquerda. O lado fronteiro revelou-nos um bom progresso. O solo era excelente e uma grande série de estacas e postes corria ao longo da margem. Foi então que, pela primeira vez, do alto de um grande jatobá, cujos frutos são suas delícias, ouvi o áspero grunhido dos macacos guariba (Mycetes ursinus, ou sretztor). É aqui conhecido pelo nome geral de bugio, ou barbado. Os colonizadores franceses chamam-no alouate; John Mawe declara que ele ronca tão fortemente quando dorme que espanta os viajantes. O alargamento da laringe numa caixa quadrada de osso, que causa esse ruído desproporcionado, é hoje familiar aos naturalistas. Esse macaco castanho era comido pelos índios e, nos lugares mais selvagens, os brasileiros não o desprezam. O piloto falou-me de uma espécie semelhante com as costas belas e negras que poderá ser o Mycetes beelzebub. Disse que o ronco do guariba era sinal de estação chuvosa que se aproximava e apontou uma série de outros sintomas menores, como o ajuntamento de borboletas em lugares úmidos, o aumento do ruído dos concertos feitos pelos sapos, o chilrear e a agitação dos cicadídeos, a mordidela das moscas mordedoras e o canto do sabiá, o príncipe dos Merubídeos. Também durante os últimos três dias, a atmosfera balsâmica tinha sido perturbada por rajadas de vento, por névoas, ora acamadas junto ao solo, ora acumuladas em nuvens bem como relâmpagos que reluziam nas massas carregadas em torno do horizonte que poderiam ser confundidas com os fumos de um navio. De noite as que estavam perto ardiam como carvão enquanto as mais longínquas resplandeciam de cor azul. Preparamo-nos para uma semana de temporais com tempestades equinociais, mas esperávamos já estar bem longe pelo rio São Francisco abaixo antes do começo do verão úmido que data geralmente de meados de outubro. Pelo que parece seríamos decepcionados.

Cerca de dez horas da manhã, passamos pela margem direita o ribeirão da Corrente, pequeno curso de água, que cresce muito durante as inundações e que estava escorrendo rio abaixo. Não é navegável, mas a água abunda em peixes. Esses locais servirão de reservas quando a vida for expulsa das artérias principais pelos vapores. A embocadura é assinalada por uma massa em forma de coluna cônica,

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