Viagens aos planaltos do Brasil - Tomo II: Minas e os mineiros

Ouvi falar de uma que chegara a ter sessenta e devorara um bezerro. Vemos em velhos viajantes que sentaram em uma árvore caída que de repente, tal como as baleias ao sentir fogo em seu dorso, começou a mudar de posição. Os índios comem a sucuriú que, como a maior parte das serpentes, é saborosa e constitui um alimento excelente. Os civilizados limitam-se às enguias. A pele da cobra tratada para botas e outros objetos é conservada agora principalmente como curiosidade.

Em Maquiné um morador atirou ao rio, antes que eu pudesse detê-lo, um belo espécime de surucucu ou çurucucu, mencionado pela primeira vez por Marcgraf. É a Lachesis mutus de Dandin, a Crotalus mutus de Lineu, a Bothrops surucucu de Spix e Martius, a Xenodon rhabdocephalus de meu amigo Dr. Otto Wucherer (Sociedade Zoológica, 12 de novembro de 1861) e a "grande víbora" de Caiena e Surinã, que é tida como provocando a morte em seis horas. O comprimento desse trigonocéfalo varia de três a oito e até nove pés. Sua pele é de um amarelo-baço com losangos escuros nas costas. A cabeça achatada e larga dá ao entendido uma aparência de ferocidade. Dizem que é atraída pelo fogo, mas raramente ataca os viajantes. Há duas espécies dessa cobra. A mais rara é a surucucu-bico-de-jaca.(35) Nota do Autor

As outras cobras de que fala o povo são as seguintes: a cascavel (Crotalus horridus) e não cascavela, como alguns escrevem, com um chocalho. Os tupis chamavam a isto "maracá", chocalho ou boicininga, de boia, ou cobra, e cininga, chocalho ou campainha. É bem proporcionada, com o comprimento entre quatro e oito pés, marrom-acinzentada, com losangos de cores mais claras ou escuras. Ela prefere terrenos pedrentos e montanhosos, onde pode facilmente esquentar-se ao sol. Tem o hábito doméstico de fazer uma casa. É preguiçosa e inofensiva, salvo quando perturbada. Daí a fama de ouvir com maior boa vontade a voz do encantador de serpente. Os chocalhos(36) Nota do Autor dão logo sinal de sua presença e pode ser morta com uma vara. O gado é frequentemente envenenado por ela, mas não ouvi falar de qualquer homem no Brasil que tenha morrido de sua dentada. Talvez a umidade do clima possa modificar o veneno. A mais perigosa das serpentes, e enfática, e declaradamente inimiga da humanidade, como a cobra-de-capelo da Costa da Guiné, é a jararaca (Cophias ou Viper atrox; Bothrops neuwiedii de Spix e Martius, aliás Crespidocephalus atrox). É de um amarelo-sujo-escuro, virando marrom-negro perto da cauda, e posto que Koster lhe dê nove pés, raramente excede cinco de comprimento. A jararacuçu é o mesmo réptil quando gordo, crescido e velho. A caninana, muito citada por velhos escritores, é um colúbrea, não muito temida, e a papa-ovo muito se parece com ela. A cobra-coral é assim chamada pelo povo por sua semelhança com uma gravata

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