Viagens aos planaltos do Brasil - Tomo II: Minas e os mineiros

um pouco mais raso. O único obstáculo era uma pedra submersa conhecida como Pau-jaú.

Fizemos nossas abluções — literalmente e não de brincadeira — e preparamo-nos entregar as cartas de apresentação. Mas como se endereçavam a pessoas ausentes tornaram-se inúteis. Cerca de 10h atracamos no porto da vila do Guaicuí. O porto não passava de uma barranca densamente recoberta de vegetação, através da qual abria-se um caminho para o alto. Recebemos então a visita do delegado de polícia, Sr. Leandro Hermeto da Silva e vários amigos. O primeiro destacou amavelmente um sargento para obter-nos alojamento em Porto de Manga, uma centena de jardas rio abaixo, e perto da junção dos dois grandes rios, o das Velhas e o São Francisco. Em breve estávamos instalados na casa do major Cipriano Medeiros Lima, que nos havia oferecido hospedagem em Diamantina. Era uma casa no estilo das demais, com paredes de taipa, com uma boa sala bem arejada que ostentava uma mesa, uma alcova escura com dois "catres",(1) Nota do Tradutor um deles com um forro de couro de boi e outro com tiras de couro trançadas. Uma passagem quase obstruída por um grande pote de água, levava a uma cozinha, que se caracterizava pelo solo de pedras finas, e um puxado destinado para acomodação de mendigos, porcos e cães. Aqui, em plena maturidade, termina o rio que temos acompanhado desde sua infância nos últimos três meses. Não se trata porém de Tânatos, é uma Mokshi,(2) Nota do Tradutor uma absorção. Era impossível contemplar sem entusiasmo o encontro das duas grandes correntes de água que aqui se desenhavam como num mapa. O rio das Três Velhas Índias, curva-se graciosamente do nordeste para a direção quase nitidamente oeste, e correndo em reta chega a cerca de 550 pés de largura.(3) Nota do Autor Atinge o São Francisco que corre do leste para recebê-lo. A margem direita do rio das Velhas é de barro duro, formando uma barranca quase vertical. Do outro lado está uma linda chácara com uma plantação de mamona que se estende em tufos azul-verdes até a água, tendo ao fundo bananeiras e laranjeiras. Além dali, no ponto de junção dos dois rios, há uma emaranhada floresta de figos selvagens, pau-jaú e outras plantas selvagens.

Permaneci em Manga de 15 a 18 de setembro. A casa que estava desocupada há muito tempo, estava infestada de bichos-de-pé e dois deles entenderam de alojar-se em mim. É um animal que tem vários nomes, Pulex penetrans, Pulex subintrans ou Pulex minimus. O velho missionário francês Yves d'Evreux (1613-14) chama-o de thon, e os franceses de agora falam des biches.(4) Nota do Autor Assim é que as línguas neolatinas tomam emprestado os termos umas das outras, alterando somente as vogais terminais. Travei também conhecimento com o brulot e o pou de Pharaon ainda que o Faaró nunca tenha

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