Cartas do Solitário

SEGUNDA SÉRIE

CARTA VIII.



Caro amigo. Ordenais que eu tome de novo a minha frágil pena. Dizeis que pode haver utilidade nestas conversações ligeiras sobre assuntos sérios. Cumpra-se o vosso desejo, cumpra-se, apesar do meu acanhamento em ocupar segunda vez um lugar na vossa grande oficina.

Eu desejaria envolver-me nas dobras largas e escuras do meu silêncio. Saí a público; Levantei a voz com entusiasmo. Falei com franqueza decidida, mas com sinceridade profunda.

Esbocei e analisei a máquina administrativa do Império. Julguei, censurei, discuti. Abri os olhos dos que não querem ver e gritei aos ouvidos dos que não sabem ouvir. Perorei com energia e escrevi com indignação. O que ficou, porém, depois de tudo isso? O fumo que se esvai, a nuvem que se desvanece, o pó que voa, o som que morre.

A indiferença mata o vigor do espírito. E há indiferença moral, política e religiosa maior do que a que estamos observando?

Mas, uma vez que vindes bater à porta da choupana do anacoreta, ei-lo que se ergue ao canto do galo e se põe a caminho.

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