Cartas do Solitário

bons. Cada um destes núcleos seria um atrativo poderoso, que mais tarde facilitaria aos agricultores nacionais o meio de conseguir braços. Ao contrário, a repartição desenvolveu-se em pessoal, anexou uma sociedade de colonização, contratou milhares de vagabundos, de proletários e condenados, mandou abrir picadas e fazer demarcações nos desertos e nos sertões, e tem consumido com isso muitos milhões. E, para completar o sistema de esbanjamento, afilhadagem e desperdícios, que caracteriza o governo brasileiro, a mesma repartição vai fundando e comprando colônias de particulares, sofríveis ou más, que brevemente serão as piores e mais dispendiosas do Império. Assim, pois, à inércia fatalista com que se deixou ir desenvolvendo o tráfico e à imprevidência que acompanhou a sua repressão executada de chofre, sucedem agora o êxito infeliz e a esterilidade das medidas miseráveis por cujo meio o governo pretende fomentar a emigração. Não é, portanto, infundado o pesar que se ouve manifestar a propósito do desaparecimento do tráfico.

Para o filantropo, há, além disso, uma circunstância importante. O comércio interno de escravos, a sua exportação do norte para o sul, é um fato que se tem agravado de 1850 para cá. Ora, eu acredito que, se as províncias do norte perdem momentaneamente com isso, ganharão mais tarde, já porque possuirão menor número de escravos, já porque isto atrairá para elas os emigrantes. Aumentando a sua população escrava, quem definitivamente perde é, a meu ver, o sul do Império. Mas, em todo o caso, é inegável que nada existe mais bárbaro do que esse comércio em que se calca aos pés o respeito devido aos laços de família e as exigências do pudor. Quem sabe se não iremos ter, de consequência em consequência, de barbaridade em barbaridade,

Cartas do Solitário - Página 179 - Thumb Visualização
Formato
Texto