Cartas do Solitário

comércio de escravos. Por isso é que, respondendo ao discurso de apresentação do ministro Hudson, na época das excitações produzidas pelos acontecimentos de Santos e Paranaguá, Sua Majestade não se revelava indignado, e até se referia "às vistas ilustradas" do governo da rainha Victoria.

Chegando a esta parte final do meu trabalho, sinto que não respondi ainda a uma pergunta, que geralmente se faz: se o tráfico de negros era um comércio horrível perante a moral, e pernicioso em vez de útil, como se compreende que muitos lamentassem a sua extinção? Além da cessação de lucros rápidos, havia para essa queixa um motivo sério. O tráfico tinha impedido e matado a emigração. Estava dissimulado e quase permitido, ao ponto de se tornar o meio único de fornecer braços à agricultura. Para suprimi-lo portanto, não se devera ter procedido de chofre. Devia-se reprimi-lo com paciência e constante energia desde a época de sua abolição (1829). O seu desaparecimento súbito, em 1850, não podia deixar de ser sensível. Foi, com efeito, este um dos maiores erros do nosso governo. Os processos bárbaros e rotineiros da nossa lavoura exigem uma perene substituição e aumento do pessoal das fazendas. Ora, não havia ainda uma corrente de emigrantes para satisfazer a essa necessidade, que o tráfico preenchia. As vistas, pois, do governo deviam voltar-se com energia para aí, e, extinguindo com uma mão o tráfico, deveria com a outra fomentar e desenvolver a colonização. É verdade que se procurou fazer alguma cousa, mas quase se reduziu tudo às formalidades do estilo. Criou-se, tarde e mal, uma Repartição das Terras Públicas. Qual devia ser o seu primeiro cuidado? Deslocar alguns pequenos lotes de terrenos próximos dos grandes povoados do litoral, demarcá-los, cobri-los de edifícios provisórios, e, feitas algumas derrubadas, entregá-los a colonos, poucos mas

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