Vivemos no século das hesitações, das surpresas e das apostasias; vivemos num século e num país, que, na frase de Bastiat, parecem ter tomado ao sério o irônico estribilho de Béranger,
"Mon coeur en belle haine
A pris la liberté
Fi de la liberté!
A bas la liberté!"
Nas gravíssimas circunstâncias do Brasil só reformas liberais em todos os assuntos podem salvá-lo. Como a Rússia, como a Áustria, como a França, chegou o seu dia também. Acreditara no prestígio despótico da autoridade, como o menino se confia à onipotência do mentor, como o povo de Deus libertado ao seu guia nos desertos. Mas o despotismo decididamente não pode mais galvanizar cadáveres. Quando as ruínas caem em pedaços, invoca-se a única medicina conhecida, o choque elétrico da liberdade.
Mas, quem ministrará, meu amigo, ao Brasil sequioso a água refrigerante das doutrinas salvadoras? Serão os homens que há tantos anos monopolizam todos os cargos do Estado, e cuja condenação os acontecimentos estão lavrando de um modo irresistível? Esses homens não pensam nem possuem convicções. Seus discursos são plágios, seus decretos cópias, suas palavras repetição sem elegância das frases que leram no primeiro livro encontrado. Assim se ilustram, granjeiam fama, e nos governam. O seu maior defeito consiste em suporem que o Pão de Açúcar é o limite do mundo moral, como a antiguidade acreditava que as colunas de Hércules eram o marco extremo do globo conhecido. Esses homens têm por costume desprezar as cousas sérias, por hábito encarar só o lado superficial das questões,