Cartas do Solitário

certo, mas por uma unidade mais forte ainda. O Império completou a obra secular. A revolução, porém, como Bonaparte, aproveitava-se do regime existente, que protegia a obra destruidora da primeira e os planos ambiciosos do segundo.

Não desprezeis por inútil esta digressão histórica. Ela serve para defender as legítimas doutrinas liberais do estigma que lhes lançou o ministro. Com efeito, nada mais oposto à liberdade, que não é senão o self-government para cada indivíduo, cada família, cada comuna e cada província, do que essa supremacia intolerável do poder central. O povo que compreende a verdadeira liberdade, aspira necessariamente a gozar da descentralização mais lata. É assim que o respeito religioso do direito constituído e, para Gervinus, o espírito livre da reforma de Luthero, fortificaram os filhos orgulhosos de Inglaterra contra a centralização. Mesmo nos dias de seus maiores triunfos, a monarquia não pôde esmagar ali a autonomia da cidade e a independência do condado.

No seio da própria Convenção francesa, os girondinos, em geral representantes do Meio-Dia, e a parte mais simpática e sensata da terrível Assembleia, tendiam para uma profunda descentralização, e até para a forma federativa. Se, modernamente, em França víamos uma escola republicana à antiga, tendo a frente Cormenin, cantar hinos a centralização que fora o maior baluarte do primeiro imperador e a companheira de sua glória, outra escola, porém, menos belicosa e mais cheia de vistas profundas, a escola que Say desenvolveu e continuaram Dunoyer, Bastiat e Chevalier, combate esse erro deplorável no seu perigo político, na sua tirania administrativa, na sua impotência industrial.

Como a Tocqueville, que estudou o assunto em todo o seu complexo, o fecundo exemplo dos Estados

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