Vós sabeis, meu caro amigo, que se pode bem fazer o elogio do preventivo ou restritivo, o sistema centralizador, mas nunca desconhecer que ele tenha, em França e na Europa, uma origem mais remota do que a revolução. Basta recordar a atrevida hipérbole de Luiz XIV: L'État c'est moi, para se ver que o regime que nos propomos examinar tem uma ascendência muito elevada, e é de progênie real, não popular.
A história o mostra. Na Idade Média, no século XII principalmente, achava-se o poder espedaçado por toda a superfície do país, como o diz Coquelin. O senhor, o duque, o conde, eram outros tantos pequenos reis em torno do rei de Paris, como, por muito tempo depois, os eleitores, os arquiduques etc., em derredor do imperador da Alemanha. O esforço da liberdade nascente, concentrado nas comunas, cresceu e provocou uma luta renhida com os senhores, que encheu todo o resto da Idade Média. Foi a realeza o tertius gaudet, em França, como em todos os povos da raça latina. Inglaterra, porém, se algum tempo se viu oprimida, foi isso transitório. Em França, Luiz XI é o predecessor terrível de Luiz XIV. O primeiro destocou o terreno, que o segundo devia aproveitar e lavrar. Mas a dominação real não se podia completar de chofre. Ficaram ainda de pé certas instituições locais, certos usos e costumes das comunas, e, sobretudo, os privilégios das corporações de artes e ofícios, que a monarquia procurou reforçar, no intuito de proteger o trabalho nacional. É inegável, entretanto, que os séculos XVII e XVIII são a idade de ouro do absolutismo, do czarismo, do sistema preventivo, do regime centralizador.
O que fez, porém, a revolução de 89? Extinguiu os restos do Antigo Regime, os Parlamentos, as corporações, e os substituiu, não pela verdadeira liberdade, é