O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

folha, ou mesmo com "banana" — não sei. Não creio que a gente deva perder-se em especulação dessa natureza, depois que se possui uma prova suficiente de que o ponto de vista fornecido pela botânica também é apoiado pela linguística, através da ideia geral dada pelas quatro formas de palavras citadas pelos dois vocábulos caribas só compreensíveis diante da nova ordenação que acabamos de estabelecer para as tribos.

4) Será que, finalmente, "pakoba", que sem dúvida partiu do litoral, não se permitirá decifrar? — "oba" mostra que a expressão se refere à fruta e não ao exterior da planta, como "plátano". É a palavra dos brasileiros — (bem, especulemos um pouco!) "A planta só produz um único cacho", diz Gilij, "em países férteis cada cacho contém no mínimo 120 frutas". A parte componente aqui é "pako", "bako". Haverá palavra semelhante em português? Certamente, "Bago", dá o Lexicon: "masc. Beere (von Fruechten), Traube!"(1) Nota do Tradutor Assim temos também "baga" que, em espanhol, é "bacca" e "baya". Esta última não só se usava em relação a pequenas frutas, como também para "maçãs", por exemplo, conforme acusa o dicionário da Academia da Espanha. Dever-se-á exprobrar tanto menos a essa simples explicação de que ela está sendo procurada, quanto o tupi não nos fornece o menor esclarecimento da origem da palavra.

Depois de tudo isso, não resta dúvida para mim de que Candolle tem razão contra Humboldt. Os descobridores haviam trazido a banana em tempos antigos(2). Nota do Autor Ao que parece veio das Antilhas para as Guianas, do litoral leste penetrou então o interior do Brasil. Com a rapidez que corresponde ao valor dessa planta, uma tribo passou-a para outra, e deste modo os vizinhos logo trocaram a palavra estranha que a designa.

Obtemos assim um importante indício cronológico. O Alto Xingu é de tempos "pré-bananais". Daí resulta outra prova da imutabilidade do estado de coisas naquela região. Os caribas do Planalto Central, os palmelas e até mesmo os bacairis estão separados dos seus companheiros de tribo — agora pode-se afirmar — desde o ano de 1600, no mínimo. Os carijonas do Alto Japurá, ao contrário, rodeados de tribos que empregam a palavra "panale" e usando contudo o "paruru" cariba, parecem ser os únicos possuidores desse termo. Eles só poderiam chegar às suas habitações atuais depois da data acima citada, como também parece decorrer dos adornos de metal comuns aos caribas das Guianas.

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