O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

para o longínquo leste: I) Os jês do oeste e do norte; II) Os jês do centro. Só considero aqui as tribos que forneceram vocabulário próprio, uma vez que de nada vale amontoar, na primeira coleção, palavras superficialmente conhecidas.

I — Um olhar para a tabela nos faz ver as relações que existem entre suiás, aponejicrãs, caraós e caiapós — os jês do oeste e do norte — que designarei simplesmente por Série suiá. Acrescento-lhes, outrossim, os carajás, contra a opinião de Martius. Provavelmente as temíveis hordas dos carajás que atravessam vasta superfície e que se acham em pé de guerra com os seus vizinhos jês, acham-se muito divididas; o respectivo vocabulário foi obtido por Castelnau no Araguaia. Martius afirma que a linguagem das tribos jês é muito diferente e prefere classificá-la no grupo Guck. Aliás, as semelhanças com vocábulos guianos repousam sobre vaga alteração; algumas palavras essenciais, como dente, pé, perna, mão (representada pelos cinco dedos) pelo contrário mostram características jês indubitáveis; finalmente o prefixo possessivo concorda com o dos suiás. Dessa maneira, os carajás, embora sendo desunidos, devem ser considerados, sem hesitar, como sendo os jês do oeste e do Xingu. O fato deles não se relacionarem com as tribos Nu, que deverão substituir os Guck, quase nem precisa ser mencionado.

Na preocupação de pisar sempre em terreno firme, não posso, outrossim, deixar de considerar a tribo dos tecunas do Alto Amazonas, que, conforme Martius, talvez representasse um fragmento atirado, para o oeste, da família jê. Não se pode, porém, sustentar essa hipótese, apoiada por mera tradição, quando se examinam os vocábulos que decidem a esse respeito.

II — Os xavantes, os xerentes e os xicriabás, sendo que estes últimos (hoje em dia cremos terem desaparecido) mostram entre si a mais íntima das relações. Os acroá-mirins parecem ter posição de intermediários entre esses representantes da mais numerosa família de tribos e os jês do norte.

Assim obtemos de um grupo representado por quatro tribos os jês centrais ou a Série Xavantes.

Não deixa de ser interessante verificar, mais de perto, os vocábulos concordantes entre si, conforme foram anotados. Se se deixa de tomar em conta os carajás, que, em outra parte, divergem, encontram-se as seguintes palavras comuns à Série Suiá e à Série Xavantes: língua, dente, cabeça, pescoço, pé, mão, dedo, braço, perna, olho, peito — água, fogo, pedra, chuva, sol, lua, peixe, veado. Ao contrário disso verifica-se

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