O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

tinham cumulado aquela simples região de montes, rios e nomes, e de tal maneira que não havia quase diferença entre essa região realmente desconhecida e a região vizinha perfeitamente palmilhada e explorada. Com efeito, como não havia margem para fantasias a respeito do trecho situado entre o Tapajós e o Araguaia, não será impossível encontrar uma ou outra descrição geográfica tão feliz que se aproximasse muito da realidade.

A partir de 15 graus, mais ou menos, notava-se uma série de nascentes, como por exemplo: Paranaxingu, Xanaci, Maceió, Trubário, Paranatinga, Rio dos Bois, Jangada, Rio dos "Bacairis" etc. Ao contrário disso, surgia outra concepção e era justamente a mais importante e a mais recente, reproduzida, no "Mapa do Império", localizando a região nascente do 12.º grau para cima.

As velhas cartas geográficas tinham razão. Todavia, o erro da cartografia moderna residia num raciocínio, que partia de um fato, durante muito tempo despercebido, mas verdadeiro, isto é, que o rio Paranatinga, limite da região conhecida, distante 40 léguas de Cuiabá, era fonte do Xingu, de modo que se assinalou a existência até mesmo de um rio Paranatinga-Xingu. Devo esclarecer mais este ponto, visto que ele foi de especial importância para o nosso plano de viagem.

Coube a Augusto Leverger ou Barão de Melgaço, que tanto se esforçou para esclarecer a geografia de Mato Grosso, o mérito de ter arrancado do esquecimento um mapa que dava como não sendo o Paranatinga tributário do Xingu, mapa esse que jazia nas poeiras do arquivo cuiabano.

Já em 1771 a Câmara de Cuiabá se tinha manifestado, ainda que de maneira incompleta, no sentido de que o rio Paranatinga seria um afluente do Tapajós. Entretanto, a mandado do governador Magessi, em 1819, o tenente Antônio Peixoto de Azevedo embarcou para o Paranatinga e, de fato, chegou ao rio São Manoel, que desemboca a 7°21', entrando no Tapajós.

Como o Paranatinga, medido em linha reta, se estendia por 170 léguas, Melgaço deixara-se iludir, infelizmente, a ponto de superestimá-lo, pois supunha que todo aquele sistema de rios acima referido, tradicionalmente citado como fazendo parte da nascente do rio Xingu, devia ser atribuído ao Paranatinga-São Manoel. De conformidade com esses dados, o Xingu deveria ser encurtado para o 13º e 12º ou até mais graus ao norte.

Nenhuma outra prova poderá melhor demonstrar a absoluta confusão, que reinava a respeito da determinação das nascentes do Xingu,

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