O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

do que essa errada teoria em que laborava o primeiro geógrafo dessa região.

Portanto, temos que: não havia base qualquer de caráter científico em relação à origem e curso superior do rio Xingu; graças ao Príncipe Adalbert conhecia-se o rio até o 4.º grau; daí em diante, para o lado sul, até o rio das Mortes, perto de 15º, era "terra incógnita".

Foi o sr. Franc. Ant. Pimenta Bueno que, no seu trabalho "Memória sobre a exploração do Rio Xingu" (Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, T. I, 1885), levantou a questão da prioridade, isto é, se antes da nossa viagem o rio Xingu já fora navegado desde as cabeceiras até a embocadura. Esse cientista, apregoado como um dos melhores conhecedores da literatura geográfica de sua pátria, mediante um material valioso de cartas geográficas, livros e manuscritos ao seu dispor, chegou à conclusão de que, se o Xingu, em tempos remotos, foi percorrido em todo o seu curso, forçosamente "as notas de viagem ou rotas com os nomes de seus autores se extraviaram". Pimenta Bueno estabelece, dessa maneira, que não há notícia de um empreendimento anterior equivalente ao nosso.

Apesar disso, ele acredita que o Xingu já deve ter sido navegado em toda a extensão, antes de nós. Ele se orienta, nessa hipótese, pela comparação que faz da nossa carta preliminar, por nós apresentada à Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, com a primeira carta oficial do Mato Grosso, do ano de 1802. Dizia que o acordo entre as duas cartas era tão grande que só por milagre seria o resultado de puro acaso.

Com isso nos colocamos na singular posição de precisar manter sobre a nossa prioridade uma discussão com alguém cujo nome e cujas notas são desconhecidas. Chamaremos a esse alguém simplesmente X.

Por que não confessar o seu ponto fraco? Confesso que, quando fiz o projeto da exploração do Xingu, não me senti de todo isento de uma orgulhosa alegria e dizia para mim: vais tentar qualquer coisa que ninguém tentou antes de ti. Mas, por que parecer pior do que realmente se é? Assim, se alguém se tivesse aproximado de mim para me perturbar com as suas palavras: — Pensa bem, X já fez isso há mais tempo — é claro que não me deixaria sugestionar. E se considerarmos, ainda, que, para tornar mais provável a suposta existência de X, se recorre, para isso, aos nossos trabalhos, então deve ser realmente bem novo o que trouxemos da nossa viagem.

Digamos que o acordo entre o nosso mapa e o de Mato Grosso de 1802 só pudesse ser estabelecido pela hipótese de um milagre ou pela existência de X, adiro, então, à opinião de Pimenta Bueno e admito,

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