O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

coisa, a linguística tem o papel preponderante. Tivéssemos nós obtido um material mais rico em medições antropológicas, ainda assim chegaríamos muito provavelmente a conclusões precárias, porque não se poderia obter aqui a quantidade de tipos de crânios correspondente à quantidade de tipos de linguagem. Pequenos grupos de famílias que se separam pelas enormes extensões territoriais experimentam preferentemente modificações nas formas já imperfeitas de sua linguagem do que nos hábitos de sua própria vida. Na realidade há poucos fatos reunidos até hoje relativamente a esse ponto, assim como a minha própria contribuição se ressentiu por causa da pressa com que precisávamos adiantar-nos em nossa viagem, e uma ou outra informação avulsa, como por exemplo a extraordinária semelhança das mãos dos bacairis com as dos seus parentes próximos rucuienses (mãos desenhadas por Crevaux), quase não vale a pena ser mencionada.

Para uma comparação etnológica, as condições se apresentam um tanto mais favoráveis. O fato de somente serem importantes os indícios, nos seus traços principais, fica provado pela equiparação já realizada, por nós, no Alto Xingu, em maior ou menor escala, entre tribos de diferentes origens. Assim foi interessante observar que os suiás, tipo certamente bem distinto dos bacairis, sob o ponto de vista antropológico, ao que parece, só ultimamente aprenderam com estes a arte de tecer redes. Por outro lado, os custenaus conservaram o seu costume de fazer as redes de fibra de palmeira, em contraste com o processo dos bacairis, que empregam o algodão. Anteriormente já mostrei que se observa a mesma diferença de hábito entre aruaques e caribas das Guianas. Observamos neste caso rapidamente resultados etnológicos e linguísticos que se apoiam entre si, ao passo que se tivéssemos ido ter com os suiás, alguns anos mais tarde, teríamos talvez encontrado, em vez das suas redes trançadas, segundo o processo dos seus parentes, os jês, apenas as redes de algodão dos bacairis que são estranhas a eles. Os curiosos adornos de cabeça só existiam entre os bacairis, os fortes tacapes e as flautas de três canos, só entre os suiás. Os bacairis mansos não possuíam as flechas de dardo de bambu dos trumaís e suiás, objeto que hoje em dia só é utilizado pelos cocamas, do longínquo oeste, para matar tartarugas; os antigos missionários também se referiram a esse objeto por terem encontrado o instrumento entre outras tribos. Os melhores artistas em adornos de penas, cestos e cerâmica foram considerados os suiás e estes suiás, os menos desenvolvidos de todos os caribas conhecidos, acham-se acima deles, porém, na habilidade mecânica; por outro lado enfeitam-se com rodelas nas orelhas e batoques na boca, só

O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu - Página 384 - Thumb Visualização
Formato
Texto