Onde encontraríamos melhor oportunidade para penetrar uma senda verdadeira, onde seria mais compensador seguir a pré-história humana do que, justamente, na América do Sul?
É-nos indiferente por ora saber se a população mais primitiva proveio de tribos remotas mais ou menos definidas antropologicamente; em todo caso, ela pertenceu, até o século XVI, à vasta superfície que representa a massa dos países mais dificilmente atingível pelas influências dos centros culturais do velho mundo. Constitui ponte estreita o istmo do Panamá e é uma estrada de muitas etapas o caminho que leva às Antilhas. A América do Sul viu-se quase tão pouco ligada com a América do Norte quanto o Alasca com a Sibéria, ou a Groenlândia com a Islândia. Nem chegou a formar-se comércio entre o reino dos incas e os povos do Anahuac e do Yucatan.
É justamente num terreno favorável às investigações da etnologia, assim como a uma experimentação pura e desinteressada, que foram encontrados pelos cidadãos regulares da Europa, que dominavam a dificuldade da escrita e compunham dramas, canibais nômades, que dormiam sob as palmeiras, não conheciam o algodão, muito menos os metais, e cuja expressão linguística, denominada, embora com muita injustiça, como sendo uma "algaravia bárbara", era sem dúvida muitíssimo pouco desenvolvida. O problema que trata da maneira por que se realiza a passagem de um nível tão baixo para outro mais alto não tem possibilidades de ser resolvido em parte alguma, se a tentativa que se fizer na América do Sul não der resultado.
Mas, cuidado com os mouros na costa! Um dilúvio geral não destruiria com mais furor as condições atuais para essa tarefa do que o destino terrível da civilização. A civilização que se aproxima pouco a pouco dessas regiões asfixiaria os resíduos de um passado pré-histórico, num abraço brutal, como Hércules, ao Leão de Nemeia. A enchente mata e arrasa, a civilização mata e aniquila.
Nenhum homem sensato quererá admitir a destruição do poder das raças superiores, porque isso custaria milhares de vítimas. Qualquer pessoa sensível, entretanto, não se poderá defender de um sentimento de tristeza, quando vê que se perdem tantos rebentos em germe de uma seara agreste, mas passível de ser cultivada, somente porque a cultura abençoada se precipita, com a violência de uma tempestade de granizo, sobre essas regiões! Educar os indígenas para o trabalho! Como soa bem e altruisticamente essa frase, mas quão egoísta se mostrou, por toda parte, o mestre no exercício do seu dever. Seria o mesmo que