O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

com ele, a hipótese do explorador X, sendo-me indiferente a época em que porventura viveu e se conheceu a escrita ou não. Mas, examinemos, antes de tudo, esses mapas: "Primeiro, as fontes do rio acham-se situadas quase na mesma latitude; segundo, o Xingu forma-se por três rios, onde um deles que fica a oeste recebe o que fica no centro, ligando-se depois ao que fica a leste, para então receber o nome de Xingu."

Jamais cairia eu no engano de esclarecer o primeiro item pelo acaso ou por X. É muito fácil provar historicamente (Pimenta Bueno sabe-o melhor que eu) como é que se deu o deslocamento das cabeceiras do rio Xingu para 15 graus. Tanto se vê isto na carta de 1802, como nas do século passado. Gonçalves da Fonseca, em 1749, já se exprime assim: entre o Tocantins e o Tapajós nascem os rios Bacairi e das Mortes e, como entre o Tocantins e o Tapajós não houvesse rio maior que o Xingu, era provável que aqueles dois rios formassem a fonte deste último. Existem, também, cartas geográficas do século passado que contêm um "Paranatinga Xingu". Sabia-se que o Paranatinga nascia a 15 graus e tinham-no como rio formador das cabeceiras do Xingu, portanto este devia começar a 15 graus. Onde é que está o milagre aí, onde está X? Poderia ser diferente a situação uma vez que se enviava o Paranatinga para o Xingu? Nessa ocasião veio o digníssimo Melgaço e desenterrou as notícias da viagem de Peixoto, realizada em 1819, onde constava que o Paranatinga era afluente do Tapajós. Na satisfação de poder restaurar os direitos do rio Paranatinga, o Barão cometeu uma injustiça para com o Xingu, injustiça correspondente a um equívoco explicável — ademais ele nada sabia de X. Outros se orientaram pela autoridade de Melgaço, inclusive Pimenta Bueno. Devo declarar com sinceridade que compreendo mais facilmente o curso do pensamento de Melgaço, o professor que se engana, do que o de Pimenta Bueno, o discípulo que sabe.

Quanto ao mais, forma-se o rio principal, pelos mapas de 1802 e 1884, do mesmo modo, isto é, por meio de três rios, "contudo", acrescenta Pimenta Bueno, "existe uma grande divergência, relativamente ao ponto em que se unem; os viajantes da atualidade deslocam a junção para 12 graus e a carta de 1802 para 14º30', porém, os antigos como os hodiernos viajantes não determinavam larguras nem extensões de rios." O mesmo aconteceu ao Tapajós e ao Arinos, cujas antigas rotas de viagem foram melhoradas por Chandless (1862).

Seja como for, é realmente considerável um engano de 300 quilômetros, de sul para norte, no início da viagem. Nós também nos enganaríamos se não tivéssemos levado nossos instrumentos, digamos até

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