O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

que nos enganaríamos em 100km, mas com a pequena diferença de havermos previamente admitido que o ponto de reunião dos rios, atingido, após tanto esforço e impaciência, seria de 100km para o lado norte, portanto equivaleria a retroceder 400km do mapa de 1802. Se este mapa indicasse ainda 11º ou até mesmo 10º, seria um engano perdoável; contudo, segundo as comunicações de X, ele assinala 14º30'. Mas, não se admite um X que, tendo conhecido as cachoeiras do rio Xingu, estimasse a viagem de 15º até 14º30', desde a fonte até o ponto de reunião, em menos de 300km do que era na realidade. Engano tão pouco natural demonstra muito mais a insustentabilidade da hipótese de um X do que a coincidência da trifurcação do sistema de rios nascentes (aliás, esquema usado para rios e fontes desconhecidas) se apresenta a favor da mesma hipótese. Assim, podemos dizer que já não era mais X nosso antecessor e sim Y.

É bem possível. Por que não? Ninguém mais do que eu estará penetrado de sincera admiração pelos velhos sertanejos brasileiros. Com orgulho apertaria, se ainda me pudesse ser apresentado, a mão daquele que dentre eles tenha navegado pelo Xingu a dentro e, se esse homem me augurasse felicidades para o meu intento, creio que me sentiria bem mais satisfeito do que pela consideração que me testemunhassem muitos cientistas, para quem o mundo significa apenas o globo na sua mesa de trabalho. Nisso concordo com Pimenta Bueno que também atravessou o sertão, embora, de resto, mantenhamos opiniões divergentes, mas o que eu desejo é que ele me apresente o velho amigo X em carne e osso, com o seu verdadeiro nome e não como X ou Y.

O sr. Pimenta Bueno somente mostrou que nada sabe ao certo de tais viajantes desconhecidos, mas que estes podem ter vivido. Não demonstrou ser provável a sua existência, e muito menos que houvesse necessidade de se admitir tal coisa, em virtude de não ser possível explicar de outro modo fatos cientificamente corroborados.

Parecerá singular que os paulistas não tivessem remontado o Xingu? Não é tanto mais extraordinário que não tivessem viajado pelo Paranatinga, que conheciam, embora o considerassem formador do Xingu? A carta de 1802 dá o Paranatinga como afluente do Tapajós? Não, mas sim como do Xingu! (Aliás, X devera ter notado o erro). Então, que mais é preciso? Aqui temos o antecessor que se procura, verdadeiro e palpável — nosso antecessor cheio de desejo de explorar o Xingu e que realizou, energicamente, a tentativa: não é outro senão o explorador do Paranatinga — o tenente Peixoto.

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