caçadores de escravos partiram do rio Cuiabá, atravessaram os montes Jerônimos, nome dado por eles, atingindo um rio que batizaram de Paranatinga, em virtude de suas águas muito alvas. Vadearam o rio, palmilharam o sertão, conservando, ao mesmo tempo, a rota traçada, chegando a um rio navegável, onde embarcaram, viajando alguns dias rio abaixo. O mesmo rio levou-os no seu curso a um outro maior, da largura do rio Cuiabá — era aí que se encontrava a região dos coroás. Enviaram mensageiros para espreitar os índios, mas voltaram consternados a dizer que a colônia dos coroás era tão grande quanto a cidadezinha de São Paulo. Diante disso desistiram do plano e voltaram pelo mesmo caminho, isto é, pelo rio Cuiabá. Durante essa estada, os que ficaram para trás tiveram a sua atenção atraída para uma estranha colina, que apresentava formas admiráveis na pedra, de colunas, degraus e coroas; por isso chamaram-na de colina "dos Martírios", pois lembrava os instrumentos de suplício de Cristo.
Entre as pedras eles acharam pedaços de ouro, redondos como fichas de jogo, com as quais os meninos se distraíam através da jornada. Os próprios velhos também guardavam alguns desses fragmentos redondos, sem saber que era ouro, visto que ainda não havia conhecimento da existência desse metal no Brasil.
Quando os corajosos aventureiros já se achavam de volta em São Paulo, nas províncias litorâneas fervilhavam os rumores da descoberta de tesouros auríferos em Minas Gerais. Assim, também Bartolomeu e Pires acompanharam o movimento geral em busca do ouro e só se tornaram adultos em Minas Gerais. Ambos casaram em São Paulo, e Pires regressou ao rio Cuiabá. Bartolomeu, porém, torturado pela lembrança da fortuna com que brincara inconscientemente, conseguiu do Governo chefiar uma expedição que pretendia encontrar de novo os Martírios. Partindo de Goiás tentou, em vão, durante três anos alcançar essa meta, mas, devido às terríveis dificuldades e aos esforços dispendidos, acabou perecendo diante de três picos que se avistavam ao longe e que lhe pareciam ser os montes Martírios.
Do mesmo modo foi infrutífera uma outra expedição que saíra de Goiás, chefiada por Amaro Leite e com 300 homens. Essa expedição acabou chegando ao rio das Mortes, em estado desolador. E, assim, ainda outras mais foram tentadas, de Goiás e de São Paulo, sempre em pura perda. No ano de 1820 o padre Lopes, saindo de Diamantino, procurou fazer catequese. Muito poucos dos que o acompanharam conseguiram escapar à morte pela fome e aos ataques dos índios arinos.