faz o comércio da baixada são, durante o transbordamento dos rios, cobertos pelas águas dos mesmos, acabando por ficar em terrível estado pantanoso. Acresce ainda a falta de pontes. A penúria é fantástica. Se não é possível arranjar-se uma canoa ou vadear o rio, o transporte das mercadorias é feito, pelos que não sabem nadar, em cima da pelota (espécie de pele de boi, muito ressequida e levantada nas extremidades), dando a impressão de uma formiga pousada numa folha. Um ou dois nadadores ficam rebocando a pelota por meio de uma corda.
O estribilho é sempre o mesmo: Para melhoria não há dinheiro! — Partindo de Cuiabá, estendem-se três "estradas" que merecem atenção especial. A primeira conduz a Diamantino (200km): é o caminho através de Tapajós, para o rio Amazonas. A segunda faz as comunicações comerciais, atualmente muito precárias, com Goiás, que é a capital da província vizinha do mesmo nome: essa estrada vai pela Chapada e a 600km alcança um posto militar no rio Araguaia, de onde mais 323km levam ao ponto terminal. Finalmente, a mais importante é a que realiza a ligação mais curta com São Paulo e que, por isso mesmo, é objeto de um plano referente à construção de uma linha de estrada de ferro para o Rio de Janeiro. Essa estrada margeia o rio São Lourenço e o seu afluente Piquiri (475km), para se dirigir à pequena cidade de Santa Ana do Paranaíba, que se situa a sudoeste de Cuiabá, acima da união dos rios Paranaíba e Rio Grande na formação do rio Paraná (1.151km). Como o trecho Cuiabá-Piquiri oferece os inconvenientes referidos, durante a época das chuvas, teve-se o cuidado de, no projeto, traçar a linha de ferro através do Planalto ou pela serra da Chapada ou ainda pela de São Jerônimo, coisa que está em estudos. Em 1846, o Cel. Lassance e, em 1879/80, Franc. Ant. Pimenta Bueno (de cujas memórias extraí várias datas aqui indicadas) exploraram o terreno. Este último pesquisou, passando pelo rio São Lourenço para além da colônia militar, seguindo a margem do planalto em linha reta e parando em Santa Ana. Calcula ele a linha até o Rio em 2.013km (Cuiabá-Santa Ana, 930km — caminho abreviado e Santa Ana-Rio, 1.083km), com um período de viagem de sete dias.
A este projeto se contrapõe outro do ano de 1876, cuja linha parte de Miranda. É, talvez, mais barato, mas incomparavelmente mais complicado; seu itinerário é o seguinte: da estrada de ferro do Rio até a queda dos Dourados (753km — três dias) viagem de vapor pelo Paranapanema, Paraná, Ivinheíma e Brilhante (914km — três dias), daí para Sete Voltas, depois o trem de Miranda (270km — três dias). Viagem a vapor pelos rios Miranda, Paraguai, São Lourenço e Cuiabá