até a cidade de Cuiabá (1.420km — oito dias), ao todo 3.357km e 17 dias de viagem.
A guerra do Paraguai é que fez sentir o quanto se fazia necessária a construção de uma estrada que comunicasse Mato Grosso com o litoral. É absurdo que o caminho que leva à capital do Império percorra três países estrangeiros.
Será que nenhum dos grandes rios que correm para o norte estaria apto a ligar a Província sertaneja ao importante escoadouro comercial?
As principais relações comerciais que se mantêm com a Província do Pará são devidas ao guaraná. O miolo dessa fruta, que dá no Baixo Tapajós e no Madeira e é mais bem preparada pelos índios Manés, constitui a bebida preferida em Mato Grosso e numa parte da Bolívia, substituindo o café. É de consistência muito dura, usando-se uma lima ou a lingueta óssea do peixe pirarucu para raspá-la. Toma-se com água e açúcar. O guaraná serve também como medicamento para dor de cabeça e diarreia. O abuso dele provoca nervosidade e insônia. O guaraná é tanto mais importante quanto representa precioso produto comercial. No lugar onde é preparado, o seu preço é de cerca de cem marcos por cada 15 quilos. Em Cuiabá, um pepino de mais ou menos 25cm de comprimento e que, partido ao meio, exala fino aroma custa no varejo 16 marcos, o que sempre é mais barato em comparação ao preço exigido pelos nossos farmacêuticos, que vendem 10g a 90 Pf. (portanto, 1k custa 90 marcos, enquanto o café está fora do alcance das bolsas). De vez em quando os preços em Mato Grosso experimentam alta colossal.
Antigamente, os negociantes saíam de Diamantino, viajando pelo rio Preto, entrando no Tapajós e, ao chegar no curso baixo do rio, trocavam o guaraná por diamantes, ouro, peles, ao mesmo tempo que sal, material de ferro, pólvora, centeio e outros artigos. Depois que se instalou a linha de navegação a vapor sobre o Paraguai, o Tapajós perdeu sua importância comercial. O Tapajós é navegável até mais ou menos 300km na parte superior de sua foz, ainda que nem sempre para qualquer espécie de barco. É na parte superior de sua foz, na margem esquerda, que se situa Itaituba (4°16'47"), cidade principal de um dos municípios mais ricos em produtos naturais do Pará. Daí para cima os obstáculos criados pelas correntes e cataratas são grandes demais para que se espere comércio florescente por ali.
Sem dúvida alguma, seria a solução mais feliz para Mato Grosso a possibilidade de se abrir uma estrada rural entre Diamantino e Itaituba, pois a exportação de gado para o Pará, onde se obtém preço bastante