elevado, poderia desenvolver-se num comércio altamente produtivo. Entretanto, esse plano acha-se ainda embrionário, por causa da falta de conhecimentos a respeito do terreno localizado rio adentro.
O rio Madeira, por sua vez, não pode resolver o problema de Mato Grosso, para o futuro comércio entre o Amazonas e a Bolívia, pois ele percorre, através de largos desvios, a região mais árida e mais insalubre da Província. Há ainda o receio de ser o Purus um dos rios que lhe arrebatarão, primeiro, sua importância atual.
O Araguaia-Tocantins também nada tem de notável: apesar de cercá-la, na maioria do percurso, ele não consegue suprimir o isolamento da Província de Goiás, que é, talvez, ainda mais pobre do que a de Mato Grosso.
Com isso, só nos resta tratar do rio Xingu, que é a última possibilidade que se oferece. Foi indispensável fazermos, primeiro, a descrição acima, para que o leitor formasse uma ideia exata do nosso plano na exploração do Xingu. O problema geográfico, isto é, a tarefa antropoetnológica interessante, era tido como questão secundária, quando se começou a discutir a nossa empresa, de modo que nosso projeto tinha, de início, o seguinte título: Estrada de Cuiabá para Pará.
Aliás, com toda a razão. Que é que, afinal, se fazia com o Xingu, que até aí merecera tão pouca atenção e que, entretanto, de toda a região explorada antes de nossa viagem, foi o primeiro afluente do Amazonas a se conhecer? O abandono, em que se deixou o baixo rio, baseava-se, não só no medo às cataratas e aos índios, como também, quanto à região das cabeceiras, no receio à solidão do planalto e aos seus índios. Contudo, era completamente ignorado até que ponto esses perigos prejudicavam o valor do rio e tornavam esse valor simples ilusão. O resultado de uma expedição ao Xingu podia falhar, mas, no interesse comercial e estratégico da Província, semelhante expedição tornara-se, pouco a pouco, uma necessidade imperiosa.
Creio que essa lacuna chamava a atenção dos nossos meios científicos, o que se verifica pela referência feita pelo incansável e corajoso Crevaux, que, de acordo com as suas últimas cartas, cogitava viajar pelo Xingu e só não realizou esse desejo, em virtude de sua trágica morte no Pilcomaio. É a ele, penso eu, que devo a sugestão.