As culturas negras no Novo Mundo. O negro brasileiro - III

do branco, e conservaram-se em estado de pureza primitiva. Já estudamos o fato especialmente no capítulo do Haiti.

No Brasil, houve também reação, na aculturação negra, em dois casos onde o fenômeno pode ser nitidamente observado: nas fugas negras dos quilombos e nos movimentos insurrecionais dos malês, na Bahia. No caso dos quilombos, tivemos um fato análogo aos dos negros fugitivos das Guianas. Unindo-se representantes do mesmo grupo de cultura (bantus, no quilombo dos Palmares) eles reagiram ao contato branco ("folga negro, branco não vem cá", como ainda hoje cantam os negros no auto popular dos quilombos e mantiveram as suas culturas originárias: religião, tradições sociais, linguagem, cultura material.

A história dos malês, também já foi contada. As suas revoltas não reconheceram primordialmente causas econômicas, como querem alguns ensaistas. Elas tiveram causas culturais, contra-aculturativas. Reagindo à escravidão, os negros do mesmo grupo de cultura (negro-maometana) uniram-se, reagindo ao contato branco, e conservando assim os padrões tradicionais de cultura. Foi por isso, que o sincretismo no plano religioso e a adaptação em geral, das outras formas de cultura, não foram possíveis entre os negros maometanos do Brasil.

O contato de culturas leva sempre aos mecanismos psicossociais do dar e do tomar.(16) Nota do Autor

As culturas negras, em contato com as culturas brancas, não só aceitaram os padrões desta, ou se adaptaram aos mesmos, como lhes emprestaram muitos dos seus próprios elementos. Já tivemos ocasião de estudar o processo no que concerne à religião e ao folclore. Outros