Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

uma tem a casca lisa, apenas um pouco sulcada; Noutra, o tronco é revestido de espinhos curtos, fortes e rombos; as folhas, que se dispõem separadamente na copa rala e pouco ramosa, são palmadas. As flores, de cor esbranquiçada, são grandes e belas; assim que murcham, caem e cobrem o chão sob as árvores. O tronco pujante dessas árvores têm uma medula muito mole e aquosa, na qual se encontram as larvas de diversos insetos grandes, que os "Botocudos" procuram, assam num espeto de pau e devoram avidamente. Fazendo-se uma incisão na árvore, surge um suco ou resina viscosa. Nessas brenhas, pequena trilha solitária conduz às colinas em que reside uma horda de "Botocudos": muitos vão frequentemente no "destacamento", trabalhando por certo tempo, se lhes dão alimento em paga.

A distância até o "quartel", por terra, é de cerca de meia légua o caminho sobe e desce através da mata, o que constitui sério obstáculo ao transporte dos produtos, que deve ser todo carregado sobre ombros humanos. O Quartel do Salto fica à margem do rio, num trecho mais largo do vale, onde, estando baixo o nível água, uma rocha rala e plana energia, orlando de ambos os lados a corrente estreita. As construções são de barro, cobertas com grossas e compridas placas da casca do "pau d'arco". O comandante, um "cabo" (oficial subalterno) e homem de cor, recebeu-me bem, dando-me um quarto num dos edifícios. Tinha somente dois soldados consigo, o resto partira em canoas para Minas; todos os quartos vazios estavam então ocupados pelos botocudos, a quem se permitia habitá-los no intuito de conservar-lhes as boas disposições. Encontrei aí a mulher do "capitão" June velha que também andava completamente nua, e ficara atrás quando a restante horda prosseguira para a Cachoeirinha. Além dessa bruxa feia, encontramos outros botocudos muito bem feitos, alguns belamente pintados à sua maneira. Uns conservavam a cor natural do corpo, pintando apenas o rosto, com o vermelho brilhante do "urucu", até ao nível da boca; outros pintavam toda a parte posterior do corpo, deixando unicamente, com a cor natural, o rosto, as mãos e os pés. Em capítulo posterior descreveremos os vários modos por que se costumam pintar esses selvícolas.

Jucakemet também chegara: era um dos botocudos mais altos que já vira, e usava grandes batoques de pau nas orelhas e no lábio inferior. Tivera recentemente, segundo nos contaram, violenta disputa com o "capitão" Gipakeiu, chefe de outra horda, chegando mesmo a agredi-lo, ao que este lhe atirara uma flecha, ferindo-o de leve no pescoço. Ele nos mostrou a cicatriz. Desde então, Jucakemet evitava cuidadosamente a zona por onde vagasse o "capitão" Gipakeiu; ele estava em Salto, na margem sul do rio, e o outro na margem norte, nas cercanias do Quartel dos Arcos, ocupado em caçar porcos selvagens nas grandes florestas. A estrada para Minas passa junto aos edifícios do "destacamento"; deste ponto para cima transitável é e está em mas condições; mas, como observamos antes, para baixo, até Belmonte, não pode ser usada. Uma tropa, carregada de algodão, descera