Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

África, habita todos os rincões do Brasil, onde é a Boa terrestre mais comum e conhecida em toda parte por "jiboia"(349)Nota do Tradutor. O Belmonte é o mais sulino dos rios da costa oriental em que se encontra a "sucuriuba"; para o norte, ocorre universalmente. Contam-se muitas fábulas a respeito do modo de vida desses imensos réptis, repetindo-se ainda nos tempos modernos, o que disseram os velhos viajantes. Os relatos sobre o sono invernal das referidas cobras não são também bastante precisos. Diz-se, na verdade, que entram em letargo, durante a estação quente, nos charcos dos campos descendentes, mas tal não acontece nos vales das matas do Brasil, onde a água é sempre abundante e onde não vivem própriamente em pântanos, porém em grandes lagos, em lagoas que jamais secam, rios e corregos, de margens ensombradas pelas florestas seculares.

No dia da malograda caça à cobra, meu pessoal matou muitas aves interessantes, entre as quais uma pequena águia escuta, com um tufo de penas na parte posterior da cabeça, espécie até agora não descrita*Nota do Autor(350)Nota do Tradutor, além de algumas araras e um grande "mutum" (Crax Alector, Linn.)(351)Nota do Tradutor, que nos foi muito benvindo à mesa. A águia ia justamente apresar um "jabuti" (marsupial)(352)Nota do Tradutor quando foi baleada; nela, tudo indicava audácia e coragem: os olhos eram vivos e orgulhosos e as compridas penas da parte posterior da cabeça davam-lhe belo semblante.

Continuando o tempo chuvoso a impedir-nos de caçar, sobretudo as "anhumas", aproveitei a oportunidade para visitar o Quartel dos Arcos, onde, durante a minha ausência, chegara uma nova horda de botocudos, cujo chefe, "Makiängiâng", era chamado, pelos portugueses, "capitão" Gipakeiu (o grande capitão). Já vinha a noitinha, e achava-me a curta distancia do "destacamento", quando, por acaso, vi num banco de areia um casal de grandes "antas" (Tapirus).(353)Nota do Tradutor