pode ficar pronta de reserva, enquanto outra é arremessada;*Nota do Autor de modo que a segunda flecha, que os outros índios têm que apanhar no solo, fica à mão para ser atirada. Encontrei aí um belo arco feito de "pau d'arco", de tamanho fora do comum, que possuía um gancho na parte superior,muito útil para prender a corda. As flechas dessa tribo, à semelhança dos arcos, são muito bem feitas; a ponta é de madeira dura e a cauda se prolonga bastante além das penas: também aí, à feição de todas as tribos da costa oriental, se usam três tipos de flechas, que eu já descrevi quando tratei dos "Puris". Vi igualmente os mesmos sacos pendurados que se observam entre os "Patachós", com quem os "Machacaris" coincidem em muitas particularidades. A compleição é a mesma dos "Botocudos", sendo, porém um pouco mais grosseiros. São altos, fortes e espadaúdos. Em geral não desfiguram muito o corpo, apenas, como os "Patachós", amarram na frente o "membrum virile" com um "cipó"; muitos fazem também um pequeno orifício no lábio inferior, onde por vezes, usam um pedacinho de bambú. Deixam o cabelo crescer, cortando-o atrás; e às vezes, igualmente, tosam o cabelo como os "Patachós". Dizem que constróem as choças da mesma maneira. As línguas das duas tribos são, entretanto, diferentes, como se poderá verificar pelos exemplos que serão anexados a estas "Viagens". Fazem causa comum contra os "Botocudos" mais numerosos, mas já tiveram, muitas vezes, disputas e guerras entre si. Obtive deles armas em troca de facas. Regalaram-me com o "caui", bebida favorita dos índios em geral, que, como todos os povos rudes, gostam muito de bebidas fortes. O que a raíz da Jatropha manihot fornece ao brasileiro, dá ao Guaraune o suco da palmeira Mauritia**Nota do Autor, ao ilhéu dos Mares do Sul a awa, e ao calmuque o kumiss.

A casa dos "Machacaris" fica num verdadeiro ermo, onde se ouvem de pertinho os gritos dos macacos e de outros animais da selva: derrubaram e queimaram a mata do lugar e fizeram as plantações. Após curta estada, desci o Jucurucu na minha canoa.

No abafante calor do meio-dia, deliciei-me nas trilhas cheias de sombra, que iam ter, sob árvores magestosas e por entre a mataria densamente entrelaçada, às habitações dos índios, esparsas e isoladas na margem do rio. Muitos desses índios da costa se assalariam aos plantadores portugueses, cultivando ao mesmo tempo as próprias lavouras; outros, sobretudo jovens, se empregam como marinheiros a bordo dos navios ou "lanchas" pertencentes à vila.

Nesse trecho descortinamos, de novo, cenários muito pitorescos, que, fixados pelo pincel de um hábil paisagista, poderíamos, com grande prazer, rememorar de maneira mais viva. Vi uma velha árvore reclinada