pretos. No Rio Doce, os colares, a que chamam \"pohuit\", são feitos de bagas pretos e duros, entre os quais, no meio, são colocados dentes de macaco eu de carnívoro. Também os \"puris\", como ainda a maioria dos indígenas brasileiros, usam desses enfeites. Na região do Belmonte parece não haver destes frutos pretos, visto como são utilizadas pequenas sementes amarelo-pardacentas e lustrosas. As mulheres e crianças trazem quase sempre desses colares, mas os botocudos homens raramente os usam, não obstante haver eu encontrado alguns, com uma porção deles presos à testa. No Rio Doce, os chefes trazem, não de raro, pendurados muitos desses cordões, em que especialmente se veem grande número de dentes de animais.
Esses selvagens têm por costume, quando se põem em marcha, levar consigo muitos pequenos objetos, de que devem fazer uso na primeira oportunidade. Cada homem traz pendurado ao pescoço, por um forte cordão, a sua maior preciosidade, uma faca, que muitas vezes é apenas um pedaço cortante de ferro, ou mesmo uma simples lâmina, que, à força de ser usada, se acha reduzida a um pequeno fragmento. Esse instrumento é sempre muito cortante, pois não cessam de afiá-lo; a figura 6 da estampa 14 representa um deles, enrolado num cordel, como é de costume usá-lo.
Os chefes distinguiam-se, às vezes, por meio de penas de aves presas à cabeça ou a outras partes do corpo. Antigamente enfeitavam-se também com um leque de 12, 15, ou mesmo mais penas de \"japu\" (Cassicus cristatus), presas aos cabelos da testa com cera e amarradas com um cordão, o que fazia um bonito contraste com a cor denegrida dos cabelos A esses leques de penas, de que a figura 6 da 13ª estampa, dá uma figura, chamam \"nucancann\" ou \"jakeräiunn-ioké\". Essa velha usança parece ter desaparecido desde algum tempo, pois no Belmonte só pude ainda encontrá-la no interior das choças. Outros chefes enfeitam-se simplesmente com duas penas, a maior parte das vezes de papagaio, que prendem à testa, com um cordel. Em 1815, num ataque contra Linhares, no Rio Doce, foi morto um chefe muito paramentado, que trazia enfiadas de penas vermelhas de \"arara\" nos braços, antebraços, coxas e pernas, e cujo arco era enfeitado em cada ponta com um feixe de penas alaranjadas, de garganta de tucano (Ramphastos dicolorus, Linn.). É raro porém que os botocudos se enfeitem assim de penas, pois os próprios chefes andam quase sempre nus e pintados como os outros. No Rio Grande do Belmonte, onde graças às suas disposições pacíficas houve ensejo de entreter com eles um certo comércio, foram-lhes fornecidos alguns lenços e outros objetos, que entretanto nunca vi em poder deles. As mulheres têm preferência pelos enfeites e escolhem particularmente colares, lenços vermelhos e pequenos espelhos; os homens escolhem machados, facas e outros utensílios de ferro. Nenhum gosto artístico demonstram os botoctulos nos objetos que fabricam; pelo contrário, outras tribos, como os \"camacans\" do \"sertão\" da capitania, fazem trabalhos muito perfeitos. Os indígenas do México e do Peru, as tribos do Rio Maranhão em particular, levam
[link=6570]Ilustração: utensílios e ornatos dos Botocudos[link]