Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

Brasil seca com uma presteza extraordinária, sobretudo no verão, todas as peles de animais; bastam poucos dias para que a pele dos maiores quadrúpedes fique dura como pau.

Outra coisa será na época das chuvas. A grande umidade do ar se opõe a que tudo se seque, e como faz ao mesmo tempo muito calor, os pés das grandes aves, principalmente das aves de rapina, das garças e dos grandes galináceos, se estragam muitas vezes ao cabo de dois ou três dias até o calcâneo. Para evitar esse inconveniente, o Sr. Freyreiss, que tem muita habilidade e experiência em preparar toda sorte de material de história natural, inventou uma lata de folha de flandres, onde as aves, convenientemente colocadas sobre algodão, são suspensas por cima de um fogo brando; viram-se de vez em quando para impedir que se queimem e também para secá-las. A tampa da lata fica um pouco aberta para a umidade se evaporar. Em um ou dois dias, as peles estão suficientemente secas. Verdade é que, às vezes, esse processo faz perder, às aves mais belas, parte do brilho de suas cores, e a gordura das aves aquáticas se derrete e espalha sobre a plumagem; todavia, não se conhece até o presente meio melhor para o viajante poder evitar que se estraguem valiosos exemplares, nas florestas quase sempre fechadas e úmidas, onde o sol nunca penetra, e se é obrigado a dormir ao relento.

Muito mais incômodo e penoso é colecionar répteis. Só em poucos lugares é que se pode encontrar aguardente pura e forte; em todos os lugares habitados só há de má qualidade. A comumente chamada água ardente de cana é muito fraca; precisa ser frequentemente renovada nos bocais em que se guardaram répteis, que, sem essa precaução, não ficariam conservados. A aguardente forte, a que os brasileiros chamam cachaça (554)Nota do Autor é muito mais útil nesses casos. Contudo, a principal dificuldade é a falta de vidros convenientes, que muitas vezes não se tem meio de remediar. Não se encontram nunca no interior do país garrafas ou frascos com gargalo suficientemente largo; só se pode, portanto, fazer entrar nas garrafas serpentes que não sejam grossas. Além disso, o transporte de vidros é muito arriscado; o burro, quando se zanga, joga no chão a sua carga, e toda a coleção de répteis está perdida. Noutro vasilhame pode acontecer que a aguardente vaze, inutilizando da mesma maneira os espécimes. Vasilhas de barro vidradas por dentro de nada valem para tal operação; não conservam a aguardente por muito tempo; seu emprego me fez perder várias curiosidades. Aliás, só se podem obter esses potes nas cidades; não são menos frágeis que os de vidro e são mais pesados.

Saí-me sempre bem colocando os pequenos animais em frascos arrumados separadamente, em caixas cheias de algodão. Para os grandes répteis, levava comigo um pequeno barril de excelente fabricação europeia; formava a metade da carga de um burro. Era de