inesgotável. Da cartola de Pedro I; das mangas rendadas de José Bonifácio; do colo da Marquesa de Santos seu passe de mágica retira, aos olhos atônitos da plateia, um punhado de consequências que, se fossem reais, inverteriam os polos do mundo.
O original, o extraordinário, o fantasmagórico, o absurdo fazem jus a melhor acolhimento das massas que o normal, o plausível, o verossímil. E então, se a nova estupefaciente satisfaz anseio recôndito do subconsciente, sua aceitação é segura. Foi assim que vimos, há pouco, propalada a versão de que Hitler teria sucumbido a um atentado e que o sobrevivente era um sósia seu. Não obstante o alvoroço com que receberam a nova os milhões de inimigos do execrado caudilho teve ela pouco tempo de vida, porque os fatos posteriores se encarregaram de desmenti-la. Essa revisão do fato, que foi possível com desmentido coevo, será sempre imperfeita, em relação a sucessos antigos de que foram comparsas personagens desaparecidos. Daí, ter a imaginação mãos livres para urdir as mais fantásticas versões dos fatos históricos. Para isso lhe ministra a tradição a matéria prima: o fio dourado com que se tecem as consagrações; e o negro com que se amortalham reputações.
Com pormenores de cuja exação histórica ninguém se pode fiar, por sua insignificância, foi que a história de sensação arrastou pela rua da amargura o pundonor, a honra e a dignidade de Pedro I e com ele o decoro do Brasil, no acidentado lance histórico que lhe coube por azar, na vida do Império. Surpreendido pelas crônicas do tempo, nos braços de uma cortesã, os rasgos mais impressionantes da vida do primeiro imperador; suas atitudes mais explícitas foram interpretadas à luz mortiça das alcovas palacianas.
A independência do Brasil, que culminou no brado com que Pedro I desafiou, intimorato, a ira das cortes,