a molequeira histórica averbou nos anais de nossa vida, como mero incidente de aventura amorosa, que o teria levado aos braços de Domitília de Castro. E para que, na trama do ultraje, não faltasse o fecal, o episódio culminante da libertação foi capitulado entre a aventura galante do príncipe e uma descarga abdominal, que a pituitária sensível dos noveleiros, um século após, conseguiu ainda fariscar, nos campos do Ipiranga.
A bisbilhotice frívola, escutando às portas da vida íntima do grande Bragança, colheu aí incidente corriqueiro na crônica das mais austeras monarquias do mundo para com ele encher o primeiro império e votar à abjeção uma existência consagrada, integralmente, às grandes causas de nossa Pátria. Os jograis que metem a riso a figura, sob todos os títulos, venerável de Pedro I, absorvidos pelas intrigas íntimas, não tiveram olhos para contemplá-lo, na majestade de sua gloriosa vida pública. Se, ao invés de estudarem a história da Regência, em função das relações de seu principal protagonista com Domitília de Castro, o houvessem acompanhado na vida ostensiva, teriam fixado do ínclito Bragança, o mesmo perfil que lhe traçou Heitor Moniz: "A história de Pedro I" — diz — "é a história de um herói. Morto aos 36 anos, deixa uma biografia que vale uma epopeia. Existência tumultuosa, incerta, irregular, está repleta de grandes rasgos de bravura, de generosidade, de abnegação, que avultam o seu perfil e agigantam a sua personalidade.
À coroa da sua glória nada faltou. Foi negado. Foi caluniado. Sofreu a injustiça e a ingratidão dos homens. Viu insurgir-se contra ele dois povos a que dera a liberdade, duas nações por quem afrontara os perigos, desafiando a morte, dois países que arrancara do regime absoluto para garanti-los com duas constituições liberais".