Antecipando de um século métodos políticos, que estão hoje consagrados, na arte de governar — manobrou com habilidade sem par, a vontade do Rei, e, quem manifestava os mais decididos propósitos de acatar a resolução das Cortes, do mesmo passo que deixava transparecer o receio de esbarrar com a oposição popular. Tudo lhe servia de pretexto para procrastinar a determinação do Reino. O parto iminente da princesa foi sua última evasiva. Sentindo, porém, que se esgotavam as justificativas que lhe permitiram contemporizar, passou a insinuar a seus familiares a necessidade de fomentarem a sedição popular. Quando sentiu que a opinião pública do Brasil o dispensava da humilhante condição de moço de recados do pai — anunciou, então, sua heroica resolução de resistir-lhe, antes que se consumasse a ameaça da expedição militar que já se apresentava contra os pruridos de independência da Colônia.
O impecável desprendimento do Príncipe, que a maledicência, a cada passo, põe em quarentena, afirmou-se inequívoco em todas suas atitudes. Ao prestar juramento de Imperador, no ambiente eletrizado que o cercava, onde a mínima reserva sua na ratificação incondicional da independência poderia ferir-lhe de morte, o prestígio — sua altivez não se rendeu, ainda assim, de olhos vendados, à discrição da Constituinte: "Juro" — disse — "defender a Constituição que está para ser feita, se for digna do Brasil e de mim". E porque entendesse, mais tarde, que a assembleia fora perjura, não trepidou em dissolvê-la. Despedindo o gabinete que incorrera em sua desconfiança e emprazado pelo povo a reconduzi-lo, resistiu: "Digam ao povo que recebi a representação; que o ministério não merecia a minha confiança e que do atual farei o que entender; que sou constitucional e marcharei com a Constituição; e que